Rodrigo Caetano e Roberto Dinamite já não apresentam a mesma sintonia
A cúpula do futebol do Vasco e o presidente Roberto Dinamite já não falam mais a mesma língua. Os principais motivos da discórdia entre as partes são as participações mais constantes do mandatário nas decisões ligadas à equipe em 2010 e a manutenção de Gaúcho no comando. Enquanto a cúpula que dirige o departamento quer contratar um profissional mais experiente para iniciar o Campeonato Brasileiro, o ex-jogador não cansa de dar entrevistas garantindo a permanência do amigo e ex-companheiro de equipe na década de 70. A eliminação da Copa do Brasil para o Vitória, na última quarta-feira, expôs ainda mais as divergências.
O departamento de futebol quer mudar o comando da equipe e chegou a sondar três treinadores. Caetano e Mandarino procuraram Oswaldo de Oliveira, que agradeceu o convite e permaneceu no Japão, Celso Roth, que pediu cerca de R$ 380 mil para comandar o Gigante da Colina e foi descartado, e Abel Braga, atualmente no Al Jazira. O último, inclusive, foi contatado pelo empresário Carlos Leite, que fez toda a aproximação e passou os contatos a Dinamite para sacramentar o interesse. Porém, o mandatário sequer telefonou para o amigo para oficializar a proposta.
Após a derrota para o Flamengo, na semifinal da Taça Rio, Dinamite confirmou a efetivação de Gaúcho até o fim do ano. No mesmo dia, dentro do vestiário, o diretor executivo Rodrigo Caetano e o vice de futebol José Mandarino se mostraram visivelmente contrários à atitude precipitada do presidente vascaíno. Mesmo com o atual comandante prestigiado, a procura por um profissional continuou em sigilo.
O clássico contra o Flamengo contabilizou outros prejuízos na relação entre os dirigentes. Visivelmente contrariado com a atuação do árbitro José Batista de Arruda, Caetano contava com uma entrevista coletiva de Mandarino mais contundente após a eliminação no Campeonato Carioca. Porém, o que o executivo viu foi um discurso ameno pedindo uma qualificação maior dos juízes. Irritado, o próprio foi conversar com a imprensa e fez graves acusações.
– O Vasco não tem o direito de voz, não tem o direito de discordar de nada. Esse cidadão (Jorge Rabello) tinha que tomar cuidado (com os árbitros que escala). O que aconteceu aqui foi um furto. Ainda bem que os dois próximos campeonatos que temos pela frente são nacionais – disse o dirigente.
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As declarações não foram bem vistas pelo Tribunal de Justiça Desportiva e por pouco não deram gancho a Caetano de até 210 dias. O dirigente vascaíno foi indiciado nos artigos 243-F (ofensa) e 243-C (ameaça). O julgamento foi adiado, já que não constava nos autos o material jornalístico com as reclamações do diretor executivo.
As duas últimas partidas do Vasco na temporada, ambas contra o Vitória, também foram fundamentais para a divisão dentro do clube. No jogo de ida, em Salvador, diante de um Gaúcho atônito, Caetano tomou à frente do treinador e foi quem deu orientações aos jogadores antes do retorno para a etapa final. Dentro de campo, os atletas corresponderam em parte e o time subiu de produção. Porém, após o apito final e a derrota por 2 a 0 no placar, o elenco não escapou da bronca do diretor executivo, que chegou a dar socos na parede do vestiário por conta da apática atuação dos atletas.
Para o jogo de volta, na última quarta-feira, diante dos baianos, um novo problema. Enquanto Dinamite e Caetano contavam com uma promoção de ingressos para lotar São Januário, a comissão responsável pela organização da partida optou por manter os preços das entradas e ter um público médio na Colina. A ideia era garantir uma boa arrecadação, mesmo que o alto custo significasse a perda de apoio nas arquibancadas. A decisão foi tomada antes do retorno dos dirigentes de Salvador. Apesar da falta de sintonia, cerca de 14 mil pessoas compareceram ao estádio e presenciaram a eliminação da Copa do Brasil.
Mas não é só a escolha do treinador, a suspensão ou a falta de comunicação que têm causado desconforto entre os dirigentes. Diferentemente de 2009, Dinamite tem tido uma participação maior no futebol, contestando algumas decisões de Rodrigo Caetano e escolhendo o técnico para o restante da temporada. No ano passado, o diretor executivo tinha carta branca do presidente, que pouco se manifestava sobre as atitudes tomadas pelo departamento comandado pelo dirigente gaúcho.
Ninguém fala abertamente do problema na Colina, mas a sintonia já não é a mesma. Talvez por isso, os resultados dentro de campo também não tenham aparecido como era esperado pela cúpula cruzmaltina no início da temporada. Com a saída da Copa do Brasil, a expectativa é que novas mudanças ocorram no comando da equipe e, quem sabe, até no departamento de futebol. Tudo depende do desempenho na estreia do Campeonato Brasileiro, no próximo domingo, contra o Atlético-MG, no Mineirão.