Mesmo assim, um momento marcante para os torcedores desse sobrevivente.
Doce e salgada: pipoqueira há 30 anos, Dona Eunice fala segredos de pipoca do Ulrico Mursa
Em 2004, na última participação a Briosa até esta temporada, o recém lançado Orkut era sensação. E Mano Menezes, três vezes campeão do torneio e com passagem pela Seleção, era apenas um técnico promissor do interior do Rio Grande do Sul que levou o 15 de Novembro de Campo Bom, algoz da Santista na primeira fase, à semifinal daquela edição.
Só que algumas coisas resistem ao tempo e seguem no mesmo lugar… É o caso da Dona Eunice, que há 30 anos vende pipoca pertinho do alambrado do Ulrico Mursa. E antes de a bola rolar no estádio, ela estava confiante num bom desempenho da Portuguesa Santista.
– Vai ser 5 a 1 – brincou.
Eunice faz pipoca no estádio da Portuguesa Santista — Foto: Bruno Giufrida
Só que o placar em campo foi bem diferente.
Mas apesar da derrota, a Portuguesa Santista deu orgulho ao seu torcedor – no passado recente, o título da Copa Paulista e a ascensão à Série A-2 do Campeonato Paulista também foram festejados.
No geral, a quarta-feira foi um dia para a Santista se reconectar ao passado. Carinhosamente chamada de “mais Briosa” por quem vive de perto o clube, virou o centro das atenções na região numa semana quase sem jogos estaduais.
Afinal, havia 19 anos que não participava de uma competição nacional (a última era a Série C de 2005).
Jornal da Tribuna é apresentado no estádio da Portuguesa Santista — Foto: Bruno Giufrida
Centro das atenções
Ainda pela manhã, enquanto torcedores iam à secretaria social do clube em busca de ingressos, Ulrico Mursa virou um grande estúdio. Dois jornais locais da TV Tribuna, a afiliada da Globo na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, foram apresentados do estádio.
O assunto na região era um só: a Copa do Brasil.
– Não adianta fazermos um futebol, jogarmos um campeonato, como ganhamos a Copa Paulista, se não houver divulgação. Isso é importante. Entendemos que na medida que o time vai bem desperta mais interesse da imprensa, dos meios de comunicação. Isso é muito importante e gratificante – disse o presidente Sérgio Schlicht, ao ge.
Sérgio Schlicht, presidente da Portuguesa Santista, comemora presença na Copa do Brasil
Ali perto, logo abaixo dos primeiros degraus das arquibancadas verde e vermelha de Ulrico Mursa, Dona Eunice, aos 76 anos, já estourava os primeiros milhos para fazer as pipocas doces que seriam vendidas mais tarde – a salgada, conta ela, fica pronta muito mais rápido.
Há 30 anos trabalhando no estádio, Eunice já vendia pipoca quando a Portuguesa Santista disputou a Copa do Brasil pela primeira vez, em 2004.
Em 2024, Eunice tem a companhia de dois filhos. Um deles, no carrinho ao lado, vende churros. Outra, ajuda nas tarefas da pipoca: cobra, recebe pedidos, coloca o sal nos milhos recém estourados e cumprimenta os conhecidos torcedores da Portuguesa Santista.
– Criei meus filhos vendendo pipoca. São torcedores da Portuguesa. Eles começaram a vender pipoca aqui com 13, 14 anos. Agora, tem o carrinho de churros. Vem meu filho, minha nora, minha filha. Hoje, estão com 44 anos. O pior é que minha filha vibra muito, grita muito, se emociona, e hoje ela vai fazer aquele exame que não pode ficar nervosa. Ela brincou: “justo agora vou fazer o exame?” – contou Eunice.
Dona Eunice e familiares vendem pipoca em Ulrico Mursa — Foto: Bruno Giufrida
Com a pipoca doce pronta, a salgada já estourando e os tremoços à venda em potes, os primeiros torcedores da Portuguesa Santista chegaram ao estádio por volta de 17h – só puderam entrar, porém, às 18h30, quando abriram os portões.
Tremoços vendidos em potes em Ulrico Mursa — Foto: Bruno Giufrida
Rapidamente, os mais fanáticos tomaram seus lugares atrás de um dos gols, bem perto do alambrado que cerca todo o gramado de Ulrico Mursa, para pressionarem o goleiro Fabian Volpi, do Caxias. Ele é primo daquele Volpi, o Tiago, que foi campeão paulista pelo São Paulo em 2021 e hoje está no México.
No aquecimento, ele recebeu o “carinho” dos torcedores da Portuguesa Santista.
– Frangueiro, frangueiro! – alguns gritavam.
Goleiros do Caxias são xingados por torcedores da Briosa
Com particularidades pouco comuns nos principais estádios do Brasil, Ulrico Mursa respirou a Copa do Brasil pela segunda vez de sua história numa noite de muito calor em Santos – a sensação térmica era de 31ºC às 20h30, quando a bola rolou.
Cercado de alambrados por toda a sua volta, arquibancadas quase todas de concreto, lojas e bares num corredor entre os degraus e o gramado, um aroma inconfundível do tradicional sanduíche de calabresa vendido na lanchonete do clube…
Ulrico Mursa é um estádio como dos velhos tempos, cheio de charme e história.
Alambrados cercam as arquibancadas do estádio da Portuguesa Santista — Foto: Bruno Giufrida
Cadê o pix?
A missão da Briosa, porém, era difícil. Enfrentaria, sob os olhares de 4.689 pagantes, o 13º colocado do Campeonato Gaúcho, que, no fim de janeiro, venceu o Grêmio por 2 a 1.
Mas mesmo que não passasse para a segunda fase, a Portuguesa Santista já tinha ganhado o direito de receber R$ 787,5 mil da CBF só pela participação na Copa do Brasil.
Mas por conta de processos na Justiça, a Briosa ainda não conseguirá utilizar o valor pago via transferência bancária para todos os participantes da Copa do Brasil.
– Tem uma importância muito grande. Todos sabem que hoje o futebol custa caro. Não é um esporte barato. E a Portuguesa, como tantos outros clubes, tem suas dificuldades financeiras. De certa forma, esse valor que vem é muito importante para que a gente possa sanar algumas questões financeiras do clube e com isso tornarmos a Portuguesa um pouco mais saudável financeiramente – contou o presidente Sergio.
Em campo, diante de uma missão difícil, a Portuguesa Santista foi valente. Começou melhor, criou oportunidades pelos lados do campo, empolgou o torcedor, que não perdoou nem os reservas do Caxias. Mas nada disso foi o suficiente. Ainda no primeiro tempo, os visitantes abriram o placar com Gabriel Santos.
Torcedores da Portuguesa Santista xingam reservas do Caxias
A Briosa precisava, então, virar o jogo para garantir a classificação para a segunda fase. O segundo tempo da equipe foi pior. Menos chances criadas, a torcida já ciente de que a missão ficara quase impossível… As maiores emoções da etapa final da partida foram quando jogadores do Caxias caíam perto de uma das arquibancadas de Ulrico Mursa e ganhavam “banhos grátis” dos torcedores.
Proximidade do gramado e as arquibancadas chamam atenção em Ulrico Mursa — Foto: Bruno Giufrida
Para acompanhar o ataque da Portuguesa Santista, por sinal, muitos deles trocam de lado durante o intervalo dos jogos. Começam a assistir atrás de um gol e terminam atrás do outro, para sempre pressionarem goleiros adversários. Muitas vezes, dá certo.
Mesmo com a eliminação, porém, a última quarta-feira de fevereiro de 2024 ficará na história da Portuguesa Santista.
– Quando se tem uma expectativa muito grande, você se sente na obrigação de responder mais, de entregar um resultado. E nem sempre está sob controle. É um sentimento muito bacana, uma experiência que vou carregar para minha vida. (…).
– A vida segue e para mim não é simples falar isso. Ocasiões como essa são únicas. Fazia 20 anos que isso não ocorria. Dizer que a vida segue pra mim não me conforta. Mas como comandante, tenho a obrigação de mostrar o caminho. Que coisas vão continuar acontecendo e ficar se amargurando não vai permitir as pessoas se colocarem numa situação de objetivo, de buscar algo a mais – disse Sergio Guedes, técnico da Portuguesa Santista.
Agora, resta à Briosa a Série A-2 do Campeonato Paulista. O time do treinador Sergio Guedes é o oitavo colocado na tabela de classificação, com 16 pontos. O líder São José tem 25.
Veja mais fotos da noite de Copa do Brasil no Ulrico Mursa
Jogadores reservas do Caxias aquecem no gramado de Ulrico Mursa — Foto: Bruno Giufrida
Loja de Ulrico Mursa vende uniforme da Portuguesa Santista — Foto: Bruno Giufrida
Bar vende bebidas embaixo das arquibancadas de Eurico Mursa — Foto: Bruno Giufrida
Filas se formam em busca de comida e bebida na estreia da Portuguesa Santista na Copa do Brasil — Foto: Bruno Giufrida