Fabio Matias trouxe a campo um Botafogo de postura muito diferente, que dialoga com aquele dos melhores momentos na temporada passada: trocas de posição, ocupação inteligente de espaços, combatividade em zonas defensivas de perigo e uma busca incessante por ataques rápidos.
A equipe não precisou de uma posse de 70%/80% para massacrar um adversário. Durante alguns momentos, teve mais posse que o Aurora, e em outros, menos, mas isso pouco importava para o modo como a equipe buscava gerar perigo. Uma verticalidade nos passes intensa, aproveitando justamente as qualidades desse bom time titular.
É claro que, quando se trata de enfrentar um adversário de nível bem mais baixo, é importante segurar a emoção que um resultado elástico como esse pode trazer. Mas uma coisa é fato: o elenco do Botafogo precisava de sintonia, tanto consigo mesmo quanto com a torcida, e na minha visão, este objetivo foi alcançado.
Abordando a parte tática, o Glorioso enfrentou uma equipe montada com linha de 5 na defesa, mas que se desajustava facilmente. A maneira do time boliviano aproveitar seus destaques gerava um foco de ataque no lado direito de defesa do Botafogo. Portanto, Jair Torrico (ala esquerdo) avançava muito mais que Michelli (ala direito). Michelli pouco passava do meio-campo.
Com isso, um balanço tinha que ser feito e a linha de 5 em determinados momentos seria composta por um volante ou simplesmente ficava sem um componente, transformando-a em linha de 4. Ou seja, era necessária muita coordenação para se defender dessa maneira sem gerar desvantagens de movimento ou quantitativas.
Fabio certamente notou a fragilidade na última linha do Aurora e preparou muito bem o Botafogo para atacar os espaços mais vulneráveis com padrões claros. Com poucos segundos de jogo, Júnior Santos já fazia a movimentação de facão, cortando a linha entre os zagueiros. No frame abaixo, já vemos como a linha de 5 se desmontava em linha de 4 com a saída de Torrico pelo lado esquerdo.
Na origem do primeiro gol, o Botafogo inicia um contra-ataque e encontra mais uma vez a linha de 5 desmontada. Mas dessa vez, Torrico está presente, e um dos zagueiros que subiu não consegue voltar a tempo. Na imagem, observamos claramente Tiquinho fazendo o facão citado e gesticulando para receber o passe.
No segundo gol, Tiquinho vira o jogo para Suárez e imediatamente corre atacando o espaço entre ala e zagueiro pela direita. Outra vez, gesticula pedindo o passe e recebe um lindo cruzamento de Damián para finalizar duas vezes e marcar. Importante ressaltar a troca de posição citada no início do texto: Júnior e Savarino com liberdade para trocar de lado e confundir a defesa adversária, algo que era feito desde 2023 com muita frequência nos melhores momentos.
Terceiro gol e mais uma ocasião da zona entre zagueiro e lateral adversário sendo atacada. Dessa vez, com Savarino vindo de fora para dentro e tabelando com Eduardo, destaque para a linda conclusão do venezuelano.
Quarto tento e outra movimentação na mesma lacuna, agora com Júnior Santos aproveitando a demora de Torrico para compor a linha e um passe perfeito de Tiquinho Soares.
Para fechar a conta, o início do sexto gol também indicou esse padrão, mesmo com o Aurora alterando 2 atletas da última linha. O “raio alvinegro” ganhou uma disputa mais centralizada, e Janderson logo aproveitou para acompanhar e atacar o vão entre zagueiros.
Concluindo, o Botafogo trouxe para as quatro linhas exatamente aquilo que seu comandante citou na entrevista pré-jogo: agressividade, competitividade e imposição. Vimos um time mais compacto, onde as coberturas chegavam mais rápido e mais ajustadas. Uma das gratas surpresas dessa noite foi a entrada da dupla Gregore e Kauê, parecidos não só fisicamente, mas também na disposição ao se aplicar na parte defensiva. Ambos mantiveram a intensidade no meio-campo e geraram gols para a equipe a partir de ações de pressão no adversário, algo que assombrava muito o time desde a queda de rendimento em 2023.
Ainda na parte defensiva, toda a última linha titular do Botafogo demonstrou sobriedade no jogo. Barboza sempre forte nos duelos aéreos e Halter com belas coberturas em velocidade quando o adversário tentava romper a linha, ambos muito ativos na construção. Damián participou bem na fase ofensiva e pouco sofreu nos duelos individuais, assim como Hugo, que teve oportunidade fazendo um movimento que é a marca mais forte no seu estilo: a ultrapassagem. Danilo Barbosa, como sempre, muito sólido ao fazer a cobertura dos meias e sair jogando com dribles ou passes progressivos.
À medida que o tempo passa, a seleção dos titulares tende a se tornar cada vez mais desafiadora. Partidas como essa são um impulso de confiança para um elenco com boa variedade de alternativas para lidar com os mais diversos estilos de jogo. A habilidade de Fabio Matias em reconhecer e reorganizar este ambiente dinâmico pode ser um belo trunfo até a chegada do novo treinador.