Em sua primeira convocação como treinador da seleção brasileira, Dorival Júnior mudou bastante a cara do elenco em relação à lista anterior, feita por Fernando Diniz para as partidas –duas derrotas– contra Colômbia e Argentina pelas Eliminatórias da Copa de 2026.
Nada menos do que 12 dos 24 foram excluídos da relação atual, que tem 26 nomes. São eles: Alisson, Lucas Perri (goleiros), Emerson Royal, Renan Lodi, Carlos Augusto (laterais), Nino, Bremer (zagueiros), Joelinton, Raphael Veiga (meias), Pepê, Paulinho e João Pedro (atacantes).
Desses, três estão contundidos (Alisson, Joelinton e João Pedro, todos atuando em equipes inglesas), então não seriam convocados mesmo. Os demais nove ficaram foram por opção de Dorival.
A meu ver, fazem falta, dos excluídos, somente dois: Paulinho, do Atlético-MG, que decaiu em relação ao desempenho de 2023, e Raphael Veiga, do Palmeiras, que continua jogando muito bem.
Desagrada-me mais a ausência de Veiga. Ele foi convocado poucas vezes e atuou muito pouco com a camisa da seleção, só três jogos, sempre entrando no decorrer dos mesmos.
Os amistosos contra Inglaterra, dia 23 deste mês (um sábado), e Espanha, três dias depois, ambos na Europa, seriam uma excelente chance para que Veiga fosse testado como titular, como o articulador da seleção, o terceiro homem de meio-campo.
Para essa função, caso Dorival opte pelo 4-3-3, dos atuais convocados, dois podem tentar exercer a função: Lucas Paquetá, que foi titular do Brasil na Copa de 2022, e Andreas Pereira.
Paquetá, entretanto, não tem as características necessárias para atuar como ritmista, termo empregado por Tite, que treinou a seleção de 2016 a 2022, para se referir ao organizador da cancha central.
Alguém como De Bruyne (Manchester City), Bruno Fernandes (Manchester United), Modric (Real Madrid), Odegaard (Arsenal). Um atleta que atue de área a área com inteligência, seja precisão nos passes e lançamentos, um às nas bolas paradas e que finalize com eficiência.
Paquetá, apesar de ter se destacado recentemente com assistências no inglês West Ham, é mais um condutor de bola do que um “pensador”, um distribuidor de jogadas.
Essa característica é muito mais de Andreas Pereira, brasileiro nascido na Bélgica que pouco teve espaço na seleção. Foi convocado uma única vez, para amistosos pós-Copa de 2018, e só saiu do banco para jogar 20 minutos em um jogo já definido contra El Salvador (5 a 0).
Andreas, que passou pelo Manchester United e foi vilão do Flamengo em derrota para o Palmeiras que custou uma Libertadores, faz essa função atualmente no inglês Fulham.
É essencial que Dorival dê mais do que alguns poucos minutos nos amistosos para ele mostrar se é capaz de abastecer com competência os atacantes e os laterais, quando estes atacarem.
O ideal seria Andreas começar um jogo e Veiga, o outro, em uma concorrência igual a fim de conferir o desempenho de cada um como ritmista –função que deverá ser de Neymar quando ele voltar a jogar.
Mas Veiga não estará. Poderia, já que há excesso de volantes na lista. Dorival chamou nada menos do que seis. Um exagero, já que apenas dois provavelmente começarão cada jogo.
Casemiro, capitão do Brasil, é titular absoluto. A outra vaga disputam Douglas Luiz, em fase estupenda no Aston Villa, e Bruno Guimarães (Newcastle). Os outros (André, João Gomes e Pablo Maia) dificilmente terão tempo de jogo para mostrar algo.
Um ou dois deles não precisariam ser chamados –João Gomes e/ou Pablo Maia.
O fato é que de volantes o Brasil está bem servido (há ainda Zé Rafael, do Palmeiras), porém faltam meias de qualidade, e um que deveria ser lembrado por Dorival é Alan Patrick, o ritmista do Internacional, que jogou muito em 2023 e se mantém em bom nível.
Ele jamais teve uma oportunidade na seleção principal. Será que a idade pesou? Talvez, mas Casemiro e o lateral Danilo também estão com 32 anos.
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Reforçando: no atual elenco do Brasil, Andreas é teoricamente o indicado para ser o “cérebro” do meio-campo.
Isso se Dorival não abdicar desse tipo de jogador e lançar mão de um 4-2-4, com dois volantes e quatro atacantes, um aberto pela direita (Raphinha), outro pela esquerda (Vinicius Júnior) e dois pelo meio (Rodrygo e Richarlison).
Nesse cenário, possivelmente um dos atacantes centrais, no caso Rodrygo, recuaria constantemente para receber a bola. Ele pode até fazer isso, mas não é o que faz de melhor, e seria desperdício, artilheiro que é, afastá-lo da área.
Ademais, sobre a convocação, é triste constatar que o Brasil –que já teve Cafu, Jorginho, Maicon, Roberto Carlos, Marcelo, entre outros– vive uma entressafra prolongada de bons laterais, na direita e na esquerda.
Tanto que Danilo, que tem atuado como zagueiro na Juventus há algum tempo, continua sendo chamado para a lateral direita. E na esquerda aparece o também trintão Wendell, do Porto, chamado uma única vez, em 2016, acumulando zero minuto em campo pela seleção.
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