Dia Internacional da Mulher: uma data de busca pelo respeito
O ofício, assinado pelo coletivo Atleticaníssimas, foi enviado à Polícia Civil e ao Athletico.
– Recebemos muitas mensagens. “Eu sei onde você assiste o jogo”, mencionando o setor da arena que assisto aos jogos. Tem muitas mulheres que estão com medo de comparecer à arena – disse uma torcedora que preferiu não se identificar.
– O Athletico é minha vida, acompanho desde que me conheço por gente, mas estou decidida a não ir ao estádio por medo do que pode acontecer comigo. Nunca passei por isso, nunca recebi tanta mensagem odiosa na minha vida – completou.
Trecho do ofício
Desde o dia 04/03/2024, quando anunciado oficialmente o nome do profissional para ocupar o cargo de técnico de futebol da equipe principal do clube, torcedores, especialmente mulheres, vêm sofrendo ataques e ameaças privadas e públicas em redes sociais, além de ligações telefônicas ameaçadoras – com menção à localização de setor e cadeira dentro do estádio -, simplesmente por manifestarem sua OPINIÃO acerca da referida contratação desta Diretoria.
Torcida do Athletico com mulheres e crianças na Ligga Arena — Foto: Divulgação/Athletico
O treinador foi anunciado oficialmente pelo Athletico na segunda-feira. Ele foi o escolhido pela diretoria para substituir Juan Carlos Osorio, demitido no final de semana.
Cuca Athletico — Foto: José Tramontin/athletico.com.br
Entenda o caso
O caso teve início em 1987, quando o Grêmio fazia excursão pela Europa. Cuca e outros três atletas – Henrique Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi – foram detidos com a acusação de terem tido relações sexuais com uma garota sem consentimento.
Segundo a investigação da polícia local, a jovem se dirigiu com amigos ao quarto dos jogadores do Grêmio. Os atletas, então, a puxaram para dentro do quarto. Cuca sempre negou ter participado.
Os quatro jogadores foram presos no dia 30 de julho de 1987, horas depois do crime. Eles permaneceram em presídios diferentes durante a investigação do caso.
Após um mês presos, os quatro atletas pagaram fiança de 15 mil francos suíços e voltaram ao Brasil. Eles não estiveram presencialmente no julgamento do caso, realizado dois anos depois, em 14 e 15 de agosto de 1989.
Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados a 15 meses de prisão, pelos crimes de coação e ato sexual com menor. Fernando foi condenado apenas por coação, a uma pena de três meses de prisão.
Os quatro receberam uma pena condicional que faz parte da legislação da Suíça – quando o condenado não tem de ir para a prisão, a não ser que cometa algum outro delito durante um prazo determinado pelo juiz. O período prescreveu.
No início do ano, o Tribunal Regional de Berna-Mittelland anulou o julgamento por falhas processuais. A decisão não entra no mérito da questão, ou seja, não trata da culpa ou inocência do treinador. Tecnicamente, porém, como o processo foi extinto, Cuca não pode ser considerado culpado de qualquer acusação.