Dimitri Payet está feliz no Brasil e entregue à torcida do Vasco. Em lua de mel com a torcida, o meia é o destaque do time na temporada de 2024. Em uma entrevista ao jornal francês L’Équipe, o camisa 10 rasgou elogios ao futebol brasileiro, ao clube e aos torcedores vascaínos. Ídolo do Marselha, o jogador disse que o Vasco salvou sua carreira e seu amor ao futebol.
– Sempre escolhi meus clubes com base em seus estádios. Eles têm de estar cheios e tem de haver uma atmosfera. Isso é o mais importante. Eu precisava dessa paixão. Se eu não tivesse isso, teria morrido lentamente. Adoro quando os torcedores são exigentes. A relação que eu tinha com a torcida do Marselha é a mesma no Vasco.
Após uma saída conturbada do Olympique de Marselha, Payet disse que estava “no chão”, sem rumo. O francês sentiu o baque da não renovação no clube onde passou a maior parte da carreira. No entanto, encontrou-se novamente no Vasco, onde a torcida e o clube o reergueram.
– Para ser sincero, a ferida nunca vai cicatrizar (com o Marseille). O rompimento foi brutal e muito difícil para mim. Depois disso, você tem que viver com isso. Quando cheguei ao Brasil, eu estava no chão. Foi difícil. Na hora da coletiva de imprensa (anunciando sua saída do OM), estava tudo acabado. Na minha cabeça, eu não conseguia ver onde poderia me recuperar. Obrigado ao Vasco e aos torcedores que me ajudaram a me reerguer. Foi o amor deles que me salvou.
Um dos poucos europeus da primeira prateleira do futebol mundial a vir atual no Brasil, Payet disse que a torcida o fez encarar o desafio de chegar ao Vasco com muita motivação. Ele disse adorar o futebol brasileiro e elogiou Maracanã e São Januário.
– Isso me motivou ainda mais. Eu encarei isso como um desafio extra. Estou feliz com minha escolha, adoro esse campeonato. É emocionante, com uma torcida incrível. É uma verdadeira emoção viver toda essa loucura no país do futebol! – afirmou Payet, que completou:
– Adorei o Maracanã, por sua história e por sua aparência. Gosto de São Januário também, é um verdadeiro caldeirão. Me lembra o do West Ham (onde ele jogou de 2015 a janeiro de 2017), onde ninguém vinha ganhar na nossa casa. Se a nossa torcida é assim quando estamos brigando para subir, não consigo imaginar se estivermos disputando uma final de Copa do Brasil. Deve ser uma loucura.
Payet, Payet, Payet… ô, ô, ô
A música que a torcida do Vasco criou para Payet virou hit e já chegou à França. O meia disse que se emociona sempre que escuta os torcedores do clube o homenageando.
– Eles a cantaram nos primeiros dias, mas é verdade que a estamos ouvindo cada vez mais. Isso é um bom sinal. É emocionante. Não há nada mais bonito do que ouvir um canto cantando em sua homenagem. É ótimo para sua confiança e seu moral – afirmou Payet, que continuou:
– Quando minha esposa (que estava na arquibancada no domingo) ouve o estádio cantando meu nome e vê tudo o que estou construindo aqui, isso reforça nossa escolha. Se eu estivesse infeliz e não jogasse, todos nós perderíamos. Agora ela me vê se divertindo, dando prazer às pessoas, e percebe que os sacrifícios valem a pena.
Torcida do Vasco canta música em homenagem a Payet
Outra homenagem para Payet é o fato do jogador usar a camisa 10 de Roberto Dinamite, maior ídolo da história do Vasco. O francês disse que sente essa pressão, mas sabe que não pode decepcionar os torcedores vascaínos.
– Sim, eu sinto isso, e é agradável. A pressão é alta, e é também por isso que vim para cá. É o que eu amo. Eu vivo para isso. É uma forma de pressão sentir o amor e as expectativas de milhares de torcedores. Eles esperam que você seja decisivo. Isso é ainda mais verdadeiro quando você está vestindo a camisa 10 usada por Roberto Dinamite. A família dele aprovou minha chegada e não havia como decepcioná-los.
Quando chegou ao Vasco, a equipe lutava para não cair para a Série B do Brasileirão. Payet se disse surpreso pelo vestiário que encontrou no clube carioca, onde os jogadores mostravam um bom ambiente no dia a dia.
– Quando cheguei, eles estavam todos no ginásio, com música brasileira tocando, cantando, dançando, estavam muito relaxados. Era como se eles não percebessem a urgência da situação. Percebi que esse era o jeito deles de ser. Depois, quando o jogo se aproxima, eles mudam, tornam-se guerreiros e vão para a batalha. Na França, se você tem 9 pontos no primeiro turno, ninguém dança ou canta (risos). Aqui, eles são alegres e felizes por estarem vivos – disse o francês, que completou:
– Eu só encontrei brasileiros que são “quadrados” e sérios. Ilan (no Saint-Étienne), Túlio de Melo (no Lille), Luis Gustavo, Luan Peres (no Marselha)… Eu não conhecia os extravagantes, os artistas, os festeiros, os Ronaldinhos…
O jogador disse que se surpreendeu com o nível do futebol brasileiro, que é “livre e autêntico”. Payet afirmou que este estilo de jogo “das ruas” combina com o futebol dele e falou que, no Vasco, precisa às vezes diminuir o ritmo dos companheiros de equipe.
– Fiquei agradavelmente surpreso com o nível do jogo. É futebol total. Às vezes, até demais. Tenho de diminuir o ritmo dos meus jogadores porque eles sempre querem atacar. Mas gosto do estilo deles, do controle de bola, da maneira como provocam e driblam. Isso vem das ruas. É um futebol autêntico, livre, menos quadrado. Isso combina comigo (sorri).
Após a salvação na última rodada do Brasileirão na luta contra o rebaixamento, Payet ainda tem pés no chão quanto à nova temporada do Vasco. O francês afirmou que o objetivo é se garantir na primeira divisão e, com isso, buscar uma vaga na Libertadores.
– Precisamos manter os pés no chão. Nosso primeiro objetivo é permanecer no campeonato e, se tudo der certo, tentaremos nos classificar para a Libertadores Seria uma viagem e tanto ir jogar na Argentina, no Chile, na Bolívia – projetou.
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Escolha pelo Vasco
– Tivemos longas conversas com meus assessores e minha esposa. Felizmente, eles estavam lá para me motivar… Havia também o Olympiakos, mas optamos pelo Brasil. Optamos por eu vir sozinho, deixando minha esposa cuidar dos quatro filhos pequenos, da escola, do futebol, dos torneios… Estou aqui graças a ela. Assinei contrato até junho de 2025.
Pensa em jogar as Olimpíadas?
Há apenas três lugares. Estou à disposição da França. Sei como é jogar uma Eurocopa em meu país e foi extraordinário. Mas não sei como é jogar nas Olimpíadas. Como francês, eu adoraria ter uma experiência como essa. Eu adoraria. Estou à disposição da equipe francesa, seja ela quem for. Vamos ver. Há um técnico (Thierry Henry) que fará suas escolhas, então estou bem com isso.
Pensou em encerrar a carreira antes?
Sim, porque eu não conseguia ver para onde poderia ir. Na Ligue 1? Eu não poderia ir para lá! Eu não queria ir para um clube sem pressão ou ambição. Eu queria um clube quente onde as pessoas me odiariam se eu não fosse bom. Então, para mim, era isso. Eu me vi parando.
Atuação contra a Portuguesa foi a melhor de Payet no Brasil?
Em termos estatísticos, sim, porque participei de todos os quatro gols. Estou feliz por estar jogando um futebol cada vez mais decisivo. A torcida me deu tanto quando cheguei que eu queria retribuir esse carinho. Fiquei frustrado por não poder fazer isso. Agora, finalmente, posso lhes dar felicidade por meio de vitórias.
Colarinho levantado na camisa
– Eu jogo como o Cantona (risos). Ao levantar o colarinho, quis homenageá-lo. Ele abriu o caminho. Ele abriu o caminho. Ele é uma lenda incontestável em Manchester e não é à toa que é chamado de The King. Além disso, ele é de Marselha. Adoro sua personalidade. Ele diz o que pensa, com suas próprias palavras.
Como acompanha o Olympique de Marseille?
– Assistindo a todos os jogos! Talvez eu tenha perdido dois ou três. Se não estou jogando, estou na frente da minha TV, como um torcedor normal. Assisto a tudo, mas dei um passo atrás. Não sou muito objetivo quando se trata de analisar ou comentar a temporada e os jogos dos meus amigos. Eu estava no vestiário deles há apenas seis meses. Ainda há um longo caminho a percorrer.