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Artur Rocha e Cadu Fonseca
17 de mar, 2024, 06:00
Após o 1 a 1 com o Vasco no primeiro jogo da semifinal do Campeonato Carioca, o Nova Iguaçu está a um empate de confirmar um feito inédito na sua história: chegar a uma final de estadual. Para isso, o clube da Baixada Fluminense não aposta somente nos seus jogadores para obter êxito, mas também fora dos gramados com alguns nomes conhecidos – e que até mesmo já foram campeões cariocas, mas pelo lado adversário.
Aposentado dos gramados, o ex-meia Andrezinho esteve presente na última conquista do Carioca pelo Cruzmaltino, em 2016, em time que ficou marcado por outras figuras experientes como Nenê e Jorge Henrique. Ele é desde 2019 coordenador técnico do Nova Iguaçu, por onde teve uma passagem no início da carreira e também mais recente, quando pendurou as chuteiras após sofrer uma grave lesão.
Ao lado do técnico Carlos Vitor, o famoso Cal, que já está há mais de três décadas na Laranja Mecânica da Baixada, o ex-jogador foi um dos muitos responsáveis por construir a “nova versão” do clube, que fez frente aos grandes do futebol carioca para chegar à semifinal. E isso vai desde o recrutamento de jogadores à prática, com o estilo de jogo vistoso apresentando dentro das quatro linhas.
O sucesso acontece não apenas no Carioca: o clube também é o responsável pela sonora goleada por 8 a 0 sobre o Itabuna-BA, na Copa do Brasil, competição que o Nova Iguaçu acabou eliminado, no meio de semana, para o Internacional.
Em entrevista exclusiva ao ESPN.com.br, Andrezinho destrinchou o projeto do Nova Iguaçu, fez elogios a Cal e também falou do sonho que tem de poder retribuir, agora fora de campo, tudo aquilo que o clube da Baixada o proporcionou na carreira. E ainda destacou o trabalho no dia a dia, junto dos demais funcionários do clube e do presidente, Jânio Moraes.
“Eu tenho uma relação com o Nova Iguaçu há mais de 20 anos. Fiz essa promessa, lá atrás, de encerrar a carreira no Nova Iguaçu. Infelizmente, tive uma contusão, não foi da forma que eu gostaria, mas Deus sabe das coisas. O presidente me deu essa oportunidade de ajudar fora de campo e todo dia para mim é como eu vivo, intensamente, no Nova Iguaçu. É o meu combustível de vida, vou com uma felicidade. É retribuir um pouco do que o futebol fez por mim”, começou por dizer.
Segundo colocado na tabela da Taça Guanabara, a primeira fase do Carioca, o Nova Iguaçu perdeu apenas um jogo até o momento no campeonato, para o Fluminense, por 3 a 0. E além de ter vencido o Vasco por 2 a 0, empatou com a dupla Botafogo e Flamengo.
Parte disso passa por Carlos Vitor, que está há 32 anos no clube e, inclusive, já foi jogador do clube. Andrezinho destacou os dois lados do treinador: o de “paizão” e também o de mister, comandando um elenco repleto de jovens promessas.
“Falar do Carlos Vitor é muito fácil. Foi um irmão que o futebol me deu, já estamos trabalhando juntos há três anos. É um cara muito humano, fácil de lidar. A gente até brinca que o ‘Cal’ é aquele cara que dá vontade de pegar, colocar no colo e levar para casa de tão ser humano que ele é. E competente. A gente tem um modo de pensar parecido, gosta do time que joga, de ficar com a bola. Claro que você tem que ter vitórias, mas você vencer jogando um futebol bonito desde as categorias de base. Essa é a filosofia do Nova Iguaçu, de sempre propor jogo, colocar a bola no chão. Esse time tem muito a cara do Carlos Vitor”, prosseguiu, admitindo que uma possível ida à final teria um sabor “especial”.
“É um clube que honra com os seus compromissos, que tem 33 anos e nunca teve uma ação trabalhista, um presidente sério. Os funcionários realmente são humildes, realmente amam o clube. Claro que precisam do dinheiro, do seu salário para viver, mas você vê que estão no clube pelo amor. Acaba sendo uma família. Se acontecer uma classificação, teria um sabor muito especial”.
Recrutamento de jovens promessas
Com uma média de idade de 25 anos, o Nova Iguaçu não tem nenhuma grande estrela no elenco, mas aposta nos jovens. Muitos deles, inclusive, surgiram das categorias de base de outros clubes, a exemplo do atacante Carlinhos, artilheiro do time no estadual com 8 gols, formado no Corinthians. Assim como Bill, ex-Flamengo, e Cayo Tenório, ex-Vasco.
A montagem do atual elenco, por sua vez, foi fruto de muito trabalho e contou com o apoio de mais de uma pessoa, já que o clube da Baixada Fluminense possui um comitê que toma as principais decisões, incluindo o recrutamento de jogadores.
“O Nova Iguaçu tem isso, de você recrutar jovens promessas, jogadores que às vezes não estão sendo aproveitados em clubes grandes, outros que a gente já vem monitorando há bastante tempo. A gente montou um comitê, onde todos opinam, todos deixam o seu parecer. A gente vê jogos inteiros de atletas que estão no nosso banco e depois define. Não tem uma pessoa que decide, tudo passa por um conjunto. E esse sucesso nesse primeiro semestre se dá a isso, à união, à humildade que nós temos. Em agosto (de 2023), quando terminamos a Série D, fizemos reuniões pelo menos duas vezes na semana com esse comitê. E hoje estamos colhendo o fruto de muito trabalho que começou lá atrás”, disse.
“Eu sempre tento passar isso para o grupo: o importante é você estar no bolo. Não importa se você vai ser a vela, o recheio. Todos fazem parte do sucesso, uns vão aparecer mais, outros menos, mas quando você conquista títulos, um êxito como o Nova Iguaçu está conquistando, chegar a uma semifinal já é um título, pelas dificuldades. O Nova Iguaçu não chega aos pés de clubes grandes, então a gente fica feliz quando tem essas sondagens, como do Carlinhos, mas têm outros jogadores que estão sendo monitorados”, prosseguiu.
E Andrezinho também falou especialmente sobre Carlinhos, que não marcou no primeiro jogo da semifinal contra o Vasco, mas deu trabalho à defesa cruzmaltina. O atacante de 27 anos, inclusive, já vem chamando a atenção de outras equipes. E para o ex-meia, o camisa 9 teria espaço em outros clubes, até mesmo da Série A.
“O Carlinhos realmente é muito diferente. Ninguém chega no Corinthians, ninguém é artilheiro de uma Copinha pelo Corinthians, com tantos gols marcados, à toa. Ele teve os percalços dele e, hoje, aos 27 anos, amadureceu, é um jogador muito diferente. Eu falo sem demagogia nenhuma, os primeiros treinos dele me encantaram. É um jogador que finaliza de direita, de esquerda, cabeceia bem, sabe conversar com a bola como a gente fala na gíria. Saindo da área, ele consegue pensar, fazer a parede, tem velocidade. Realmente é um jogador que tem, sim, espaço em um time de Série A. Eu assinaria embaixo uma contratação de qualquer clube da Série A pelo Carlinhos”.
‘Polêmica’ envolvendo o Maracanã
Dias antes do jogo decisivo da semifinal, o Maracanã, palco da partida de ida, foi protagonista de uma polêmica. Isso porque o Nova Iguaçu, agora mandante, desejava disputar o confronto no local, mas em um primeiro momento apontou o Raulino de Oliveira, em Volta Redonda.
E a história envolveu não só o Nova Iguaçu, mas também a própria FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), o Governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, a dupla Flamengo e Fluminense, que faz parte do consórcio que administra o estádio, além próprio o Vasco. A situação foi resolvida, oficialmente, na última quinta-feira (14), com o Maracanã enfim oficializado como local da partida.
E Andrezinho negou que o Nova Iguaçu, de alguma forma, tenha sido prejudicado nesse contexto. E reiterou a vontade de, desde o início, o clube mandar a partida lá.
“Na minha opinião o Nova Iguaçu não foi prejudicado. A gente sabe que tem a parte burocrática, que a gente tentou e conseguimos blindar os jogadores, para não entrar nessa polêmica porque é briga de cachorro grande, mas para a gente, se for perguntar, todos os jogadores gostariam de jogar no Maracanã, pelo palco, por jogar com o estádio cheio. Foi uma surpresa muito grata porque, se você pegar 90% do nosso elenco não tinha pisado no Maracanã. E você jogar no Maracanã com mais de 60 mil pessoas, enfrentar o Vasco e ter a personalidade que o time teve. Com certeza eles gostariam e ficaram felizes de voltar a esse palco, que vai ser um momento histórico para eles, que eles vão contar para os filhos, para os netos deles”, finalizou.
Próximos jogos do Nova Iguaçu:
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Vasco (C): 17/03, 16h (de Brasília) – Campeonato Carioca
Próximos jogos do Vasco:
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Nova Iguaçu (F): 17/03, 16h (de Brasília) – Campeonato Carioca