-
Gustavo Hofman, de Madri (Espanha), blogueiro do ESPN.com.br
23 de mar, 2024, 11:50
A decisão da DFB, a federação alemã de futebol, de trocar a Adidas pela Nike como fornecedora de material esportivo não pode ser vista apenas como uma decisão comercial. A retirada das três listras dos uniformes da Alemanha e a chegada do Swoosh carregam um simbolismo enorme para o país.
Pelo novo acordo, a Nike será a nova parceira da DFB a partir de 2027 e até 2034. Oficialmente os valores não foram divulgados, mas a imprensa alemã fala em 100 milhões de euros. Esse montante é o dobro do que paga atualmente a Adidas, com a qual a federação mantém contrato desde 1954.
Economicamente não há muita discussão, ainda mais para uma entidade que não passa por um momento financeiro saudável. Entre 2018 e 2022, a seleção alemã caiu na fase de grupos das duas Copas do Mundo e foi eliminada nas oitavas de final da Euro, resultados que renderam apenas 27 milhões de euros em premiação. Como comparação, entre 2010 e 2014 foram 61 milhões recebidos pelo terceiro lugar no Mundial da África do Sul, as semifinais na Euro e o título conquistado no Brasil.
Além disso, a construção do novo complexo da DFB em Frankfurt, que inclui campos de treinamentos para as seleções e a sede da entidade, inaugurado em 2022, custou 180 milhões de euros, valor bem acima do estimado no início do projeto, segundo publicado pela Deustche Welle.
A Nike já havia tentado quebrar o acordo da DFB com a Adidas em meados dos anos 2000, mas não obteve sucesso. Agora levou adiante seu plano e provocou grandes reações na Alemanha.
Robert Habeck, ministro da Economia do governo de Olaf Scholz foi um dos políticos que se manifestaram sobre o acordo. “Não consigo imaginar a camisa alemã sem as três listras. Adidas e o preto, vermelho e dourado sempre estiveram juntos para mim. Como parte da identidade alemã. Eu teria gostado de um pouco mais de patriotismo local”.
A Adidas possui essa importância para a Alemanha, assim como suas montadoras automotivas. Tornou-se uma referência cultural do país e também de sua excelência. No futebol esteve ao lado da seleção nos quatro títulos mundiais. Em 54, Adi Dassler, fundador da Adidas, foi o responsável direto pela produção das chuteiras dos jogadores.
A DFB, em sua defesa, afirmou em um comunicado oficial que a troca de empresas foi “resultado de um processo transparente e não discriminatório”. A entidade garantiu que a oferta da Nike foi “de longe a melhor financeiramente e ainda impressionou pelo conteúdo da sua visão”. Palavras que levam a projetar também certo acomodamento da Adidas.
Nesta semana, a marca alemã lançou os novos uniformes da seleção, que estrearão neste sábado, no amistoso diante da França, em Lyon. As três listras permanecerão na camisa na próxima Euro, assim como na Copa de 2026. Depois disso, por mais alto que o dinheiro fale, será realmente muito estranho ver a Alemanha com o Swoosh da Nike.