Se tem alguém hoje batendo cabeça na F1 é a Alpine. Quantas vezes você já leu e ouviu que “desta vez vai”? Este espaço está incluso nesta situação. Mas chama a atenção a incapacidade francesa de conseguir progredir na F1.
Vendo o quadro geral até aqui, se dá razão a Fernando Alonso e Oscar Piastri por terem saído na primeira oportunidade. Mas muita gente se pergunta o porquê de não funcionar: existe uma boa infraestrutura em Enstone (Inglaterra), um centro de desenvolvimento reconhecidamente competente de motores em Viry-Chatillon (França)…
Para esta temporada, as intenções eram mais desafiadoras. Como o restante do grid, a Alpine foi para uma linha de progredir mais no projeto. O A523 não pareceu ser tão ruim, especialmente no segundo semestre, quando o time adotou linhas de acerto diferentes. Quando apareceu, o A524 era uma versão bem revisada, adotando linhas da concorrência, como as laterais bem recortadas.
Só que quando Gasly e Ocon foram para a pista, o resultado não era o esperado: o carro se mostrou pesado e com problemas de aderência, além de seguir com o motor mais fraco do grid (algumas pequenas mudanças foram feitas, mas nada que ajudasse a compensar efetivamente o atraso em relação aos demais). O GP do Bahrein foi simplesmente decepcionante.
Mais uma vez, a “porta giratória” entrou em ação. Na segunda (04), confirmou-se a saída de Mark Harman e Dirk de Beer, Diretor Técnico e Aerodinamicista chefe, respectivamente. Entende-se, pois são os principais responsáveis pelo projeto do carro deste ano.
Em um primeiro momento, Bruno Famin, responsável pela área de competições e acumulando a Chefia de Equipe, anunciou uma solução semelhante a que a McLaren adotou ano passado: uma estrutura descentralizada e com gente “da casa”. O trio formado por Joe Burnell (engenharia), David Wheater (aerodinâmica) e Claron Pilbeam (performance) terá a missão de desenvolver o A524, pensar 2025 e iniciar o projeto para 2026.
É mais um capítulo da eterna reestruturação francesa, que sempre diz que é um “projeto de futuro”. Uma das coisas que sempre questionou é até onde a Renault estaria disposta a investir para andar na frente. E volta e meia a possibilidade de venda aparece na mesa.
A última vez foi em 2020, quando houve uma reestruturação por conta da COVID-19, o comando da empresa mudou e a F1 passou para a bandeira da Alpine. Até aí, ok. Afinal, a marca tem uma tradição grande de competições. E esta foi uma mudança estabelecida por Luca Di Meo, o flamante italiano CEO, dentro do seu programa “Renaulution”, que previa uma profunda reestruturação da Renault.
O que parecia promissor, não aconteceu. A equipe seguiu não desenvolvendo e chega agora, ao menos externamente, sem muito brilho e direção. Embora hoje o time seja autossustentável graças aos patrocínios e aos valores recebidos junto à Liberty Media, além da entrada de capital com a venda de 24% da participação acionária no ano passado, não há garantias de futuro.
Mesmo assim, é preciso mais. Falta estabilidade no comando (oi, Ferrari!) e não falamos somente na equipe de F1. A própria Alpine mudou de comando várias vezes e isso refletiu em algumas decisões. Ou até mesmo a falta delas. Mas focando na F1, desde que assumiu a identidade Alpine em 2021, o time teve 4 chefes de equipe: Marcyn Budkowski, Otmar Szafnauer, Alain Permane e Bruno Famin (originalmente responsável pela área de competições e vem assumindo o posto temporariamente). Além disso, várias decisões sobre investimentos na fábrica e direção a ser seguida foram sendo afetados. Uma situação dessa acaba não sendo sustentável.
Por força de contrato com a Liberty Media, uma permanência estaria garantida até 2025 pelo menos. E conforme reza o contrato comercial vigente, uma possível saída poderia acontecer com um ano de aviso prévio. Desta forma, uma saída poderia ser provável para 2026 ou até mesmo uma possível venda do controle…
Poderíamos ver uma repetição do que aconteceu em 2009, quando após o escândalo do Singapura, a Renault vendeu o time, mas seguiu fornecendo motores. Quem comprasse agora o controle da equipe, inicialmente não perderia o direito aos valores que a Alpine teria direito a receber, o que seria um alívio para um novo controlador.
O que se diz nos corredores da Renault é que esta seria uma espécie de “último respiro”. Di Meo é um entusiasta do projeto F1 e vê como importante no processo de marketing da Alpine, que vem crescendo firme nos últimos tempos. Mas diante da falta de resultados, um desembarque não seria malvisto, ainda mais quando a Renault vem investindo forte em renovação da linha de carros e implicaria em um reforço no caixa da empresa.
Para a F1, a manutenção do time é primordial para manter o “Clube dos 10”. Por isso mesmo que uma solução de compra seria fortemente patrocinada pela Liberty Media. Aqui, é o que se fala na oportunidade de a Andretti assumir o comando. Os americanos já tinham um pré-acordo com a Renault para fornecimento de motores e câmbio. Uma negociação para compra seria abençoada por todos por ser a solução mais conveniente no momento.
Como falamos antes: por enquanto Luca Di Meo banca o projeto e segue comprometido com ele. Afinal de contas, algumas contratações foram feitas visando o desenvolvimento do motor para 2026 e a Alpine tem espaço para contratação de pessoal. Tanto que se fala em reforçar a parte técnica e Mike Eliott, o responsável pelo Zeropod da Mercedes, estaria na mira dos franceses.
Mas é preciso salvar 2024. Um carro malnascido pode até ser salvo, mas é preciso ter tempo e dinheiro. Algumas melhorias estão previstas para as próximas etapas, mas não é garantia de que os problemas do A524 serão resolvidos, para a infelicidade de Ocon e Gasly, que estão em seu último ano de contrato e querem definir logo sua situação. A vida da Alpine não é fácil…