Ganhar ou perder faz parte do jogo. O importante é chegar sempre que uma hora o título vem, a taça é levantada e a massa comemora nas arquibancadas.
Relembre dez finais que não saem da memória do torcedor do Athletico:
Atletibas finais de 1998
Campeonatos de pontos corridos são instrumentos de justiça, premiam times regulares, estrutura, preparo psicológico e boas defesas. Poderiam ser ainda mais se a distribuição do dinheiro fosse menos desigual, mas sou fã.
Isto posto, não há nada como uma boa final de campeonato para incendiar uma cidade. Como aconteceu em 1998, nos três primeiros grandes Atletibas da era digital. Para mim, o ano marcou a inversão real – patrimônio, torcida, ambição, organização etc. – da hegemonia da cidade.
Três jogos mágicos que, ao enterrar a era Pinheirão, anunciaram o que o futuro planejava para o Athletico. A taça estadual voltou às mãos rubro-negras com um empate por 1 a 1 e duas vitórias (4 a 1 e 2 a 1) sobre o rival.
Athletico x Pinheiros (1988)
Na primeira decisão da era Pinheirão, uma década antes, o adversário era o extinto Pinheiros, que jogava sua última cartada. Outros três jogos com enredo de reviravoltas.
Pessoalmente, descobri o Boqueirão, onde vibramos com o gol salvador do endiabrado Vilson, a faísca rubro-negra. No jogo seguinte, entrou água no chope após o pênalti perdido pelo ídolo Carlinhos.
Choramos com ele no Pinheirão, mas na terceira partida a cidade voltou a sorrir. Manguinha colocou seu nome na história e o caroço lá dentro da cidadela de Toinho, que nada pode fazer a não ser ir buscá-lo lá no fundo do baú.
Bicampeonato Paranaense em 1983
Cinco anos antes, o Athletico tinha feito até então a melhor campanha de um time local no Campeonato Brasileiro. Sem o Casal 20, o jovem Joel comandou o ataque e Abel assumiu a ponta.
Foi uma rima e uma solução. Em dois Atletibas brigados, o bicampeonato veio com dois gols do centroavante prata da casa. A faixa desse jogo é minha preferida nos LP’s da Rafio Clube sobre os títulos, em especial quando Lombardi Jr. narra o gol inacreditável que os rivais perderam e logo depois a alegria, alegria, alegria do meu povão rubro-negro.
A Melhor de Três de 1945
Há quem diga que o Atletiba como disputa eterna entre modos de viver e visões de mundo começou nas lendárias finais de 1945. A segunda guerra já havia acabado e havia feridas expostas que vinham de longe e de perto.
Também foi a melhor de três jogos. O Athletico perdeu a primeira, mas encarnou o time da raça e venceu a revanche por monumentais 5 a 4. A finalíssima foi no dia 30 de dezembro. Empate no tempo normal.
Na prorrogação, Caju brilhou e Xavier decidiu o título. Conheci pessoas que participaram deste jogo em campo e nas arquibancadas e foram as maiores finais de todo o sempre.
A Primeira Final de Libertadores (2005)
Entre a euforia pela instalação da arquibancada móvel e a ira pelo veto à Baixada na canetada da Conmebol, passaram-se poucos dias. Entre os jogos da final da Libertadores, não voltei para Curitiba.
De Porto Alegre fui a São Paulo e não vi o Atletiba que vencemos no entrementes. Uma final da Libertadores era maior que meu maior sonho e vivi o jogo por dia, momento a momento.
Um sonho que bateu na trave no último lance do primeiro tempo, na cobrança de Fabrício. Tive a ideia de dar um chute nas portas de ferro da saída do Morumbi para ver se o timbre lembrava as do Couto Pereira e a insensível polícia paulistana me reteve. Dor, erro e revolta também são o futebol.
Os Atletibas sem gol de 1978
Os maiores Atletibas decisivos da era moderna opuseram sequelas de conflitos passados e latentes entre as duas maiores torcidas da cidade. De novo, três jogos com mais de 150 mil espectadores em sete dias sem gols.
Era “o” nosso título dos anos 1970. Mas o bom time entrou tão mal escalado que entre a comunidade rubro-negra, desde então, pairam dúvidas quanto à ética da comissão técnica atleticana. Nas cobranças de pênaltis, o ótimo Rotta marcou o nosso único gol. Nossos dois pontas, Paulinho e Lula, erraram e o título escapou dolorosamente.
A Seletiva é um título? Claro que é
Lembrar de onde se estava num momento histórico é uma forma de eternizá-lo. No dia da final da Seletiva da Libertadores de 1999, nosso primeiro título nacional, eu fazia a prova de vestibular em Florianópolis e ouvi da janela alguém gritar: “gol, caralho”.
Não consegui mais me concentrar. Devia ter ido para Minas. Fui o primeiro a entregar. Vi que era o gol do Gabiru, o gol do título, apesar da derrota por 2 a 1 para o Cruzeiro.
Eu não passei naquela prova, mas o Athletico aprendeu a ganhar títulos nacionais e abriu a porteira para o que viria. Na partida de ida, Lucas havia feito três para encaminhar a permanência da taça na Baixada.
Segunda final da Libertadores (2022)
Em mais de 40 anos frequentando a Baixada, nunca vi nada parecido com a atmosfera ali criada para que o torcedor pudesse ver a segunda final da Libertadores. Quem como eu não teve dinheiro e meios para viajar ao Equador foi convidado pelo clube para entrar em um portal que levava para o futuro.
Universos paralelos. Mundos que só existem no desejo. Mistura de letra do Fausto Fawcett com Blade Runner, eu ainda custo acreditar que tudo aquilo aconteceu daquele jeito. Uma amarga sensação de que “dava” ainda permanece viva.
As finais de 1990
Sete anos se passaram desde o bicampeonato em 1983, longo tempo no futebol. Eles tinham um bordado sobre o distintivo e nós estávamos longe da Baixada. As torcidas haviam duplicado de tamanho e eram verdadeiros exércitos civis em guerra aberta e permanente.
Dessa vez, foram dois jogos. Os últimos confrontos analógicos após sete décadas de rivalidade tomaram a cidade de arrasto. No jogo da ida, a primeira vez que eu e o mundo nos abraçamos. A vida era tão bela quanto um gol no último minuto. A partir do segundo, vencido pelo Furacão na bola e na moral, o rival passou a emanar a luz de uma estrela morta.
A Maior final da História (2001)
O último momento esportivo do Campeonato Brasileiro foi a semifinal, a partir dali tudo foi um transe coletivo. Ninguém das minhas relações pensou ou fez outra coisa a sério entre os dias das finais no quente dezembro com o mundo em polvorosa.
O que se pode falar ainda daquelas duas vitórias? Sou do tipo que faz declarações bombásticas, assim vos digo: foi até aqui o momento mais alto da história na era comum. Longa vida, Alex Mineiro.