O comportamento de dirigentes e treinadores no Brasileirão merece a criação do prêmio John Textor. Ele seria dado a quem conseguisse usar melhor a ruindade da arbitragem brasileira para desviar o foco dos problemas de seu time.
As acusações do dono da SAF do Botafogo de manipulação de resultados no futebol nacional começam a ser exploradas por treinadores e cartolas de outras equipes para falar de outro assunto que não o que acontece com seus times.
Dessa vez, Textor serviu de escudo para o Flamengo. Tite não concedeu entrevista coletiva após o empate em 1 a 1 com o Red Bull Bragantino, em Bragança Paulista, no último sábado (4).
Em vez de o treinador responder às perguntas, o vice de futebol Marcos Braz e o diretor Bruno Spindel fizeram um pronunciamento.
Ao estilo de Textor, Braz deixou no ar acreditar existir interferência externa nas decisões do VAR no Brasileirão sem apresentar provas.
“Faço uma sugestão: entrou para a cabine do VAR, não pode ter celular lá dentro, nenhum tipo de comunicação”, disse Braz.
Mesmo sem citar o nome do norte-americano, o dirigente rubro-negro fez referência às declarações de Textor. “Se o Tite vem aqui na entrevista da maneira que ele está no vestiário, não seria bom para o Flamengo, não seria bom para ninguém. A mensagem está dada, eu só quero saber, entender se quem grita mais vai levar”, afirmou Braz.
O vice de futebol também disse: “a CBF está se ajoelhando a isso? A quem bate na mesa, quem bate, a quem faz ilações perigosas”.
Ou seja, em vez de Tite aparecer e responder sobre novamente ter sido vaiado pela torcida do Flamengo, os holofotes ficaram em dois cartolas reclamando da arbitragem.
Assim, ausência na entrevista coletiva foi confortável para o treinador. Ele não precisou responder sobre o desempenho de sua estrelada equipe. O Flamengo não mostra no Brasileirão a mesma força que mostrou no Campeonato Carioca.
Os flamenguistas reclamam da anulação da expulsão de Luan Cândido, do Bragantino, e de um pênalti que não teria sido marcado em Luiz Araújo.
Essa não foi a primeira vez que as acusações de Textor foram usadas para embalar críticas de quem não é do Botafogo à arbitragem. Renato Gaúcho fez isso após a derrota do Grêmio para o Bahia, por 1 a 0, no último dia 27.
“Temos que pensar no futebol brasileiro. Até onde a CBF, o [Wilson Luiz] Seneme [presidente da Comissão de Arbitragem da CBF] querem que o campeonato ande naturalmente? Ou será que temos que dar mais atenção para o que diz o presidente do Botafogo [John Textor, dono da SAF botafoguense]”, afirmou o treinador.
Ele havia deixado o banco de reservas com seus jogadores em protesto contra a expulsão de Diego Costa, já substituído. A ação espalhafatosa somada à referência a Textor ganhou espaço no noticiário que provavelmente seria usado para tratar das falhas do Grêmio.
Desta forma, aos poucos, o barulho feito por Textor sobre a suposta manipulação de resultados, em vez de explicar como o Botafogo perdeu um título que parecia ganho, se consolida como um nicho a ser explorado também pelos rivais.
Cada um pode usar o tema a seu gosto para atacar a péssima arbitragem brasileira e, ao mesmo tempo, tirar do foco assuntos indigestos.
Como a moda está pegando, o prêmio John Textor poderia servir para avaliar quem são os mais eficientes, persistentes e criativos na prática do desvio de foco. Fica a sugestão. A diretoria do Flamengo e Renato Gaúcho concorreriam à premiação.