Campeonato Brasileiro Feminino começa nesta sexta-feira
– Quando deixei a Seleção, alguns clubes me procuram, interessados no meu trabalho. E muito rapidamente, eu recebo deadlines. Quando eu paro para analisar os projetos que chegaram, eu via o Cruzeiro como o projeto mais promissor. E o projeto que a liderança, a figura da liderança, na minha leitura, faria um impacto muito grande. Teria um impacto muito grande.
A escolha pelo Cruzeiro foi pelo projeto. O clube estava passando por grandes mudanças e tinha conquistado uma classificação histórica para as quartas de final do Campeonato Brasileiro feminino. Com menos de dois meses à frente da Raposa, Jonas conquistou o Mineiro, título que as Cabulosas não ganhavam a três anos.
Jonas Urias comemorando o título do Campeonato Mineiro com o Cruzeiro — Foto: Cruzeiro
– Eu falei no meu primeiro dia aqui, me deram o microfone, e minha pergunta era: o que é ser uma cabulosa? Vocês precisam saber quem vocês são primeiro, para só depois de saber, eu dizer ou sugerir como nós vamos jogar. Não vão jogar como o Jonas joga, nem como os times do Jonas jogaram. Vão jogar como as cabulosas, devem jogar. E o Jonas vai ajudar as Cabulosas a serem melhores, dentro de quem elas são.
Trajetória
Para Jonas Urias chegar ao ponto em que está, são 14 anos comandando times femininos. Desde a faculdade, o treinador se interessava pela categoria, muito movido pelas histórias que as mulheres carregavam. O técnico, de 34 anos, natural de São Bento de Sapucaí, interior de São Paulo, é de família apaixonada por esporte e, principalmente, por futebol.
– Perdi minha mamãe quando eu tinha 12 anos de idade, e foi algo que me fez me unir muito, principalmente aos meus irmãos, pra gente superar aquele momento. Eu sempre fui apaixonado por esporte, não só futebol, mas sempre joguei futebol, acho que todos os dias, entre os 7 aos 16 anos de idade. Eu jogava todos os dias, mas sempre um amante de outras modalidades também, e acho que muito por causa do meu pai. Meu pai é um senhor desportista até hoje, e se orgulha muito disso. Por isso, eu criei afinidade.
Parte da família de Jonas Urias, treinador do Cruzeiro — Foto: Redes sociais
Jonas é bacharel em esportes, pela Universidade de São Paulo. Começou a trajetória como treinador na faculdade, comandando os times universitários. Aos estudar o esporte brasileiro, conheceu o futebol feminino e, desde então, seguiu essa caminhada. No Centro Olímpico, em São Paulo, treinou o primeiro time formado por mulheres.
– Encontrei com o Centro Olímpico de Treinamento e com o futebol feminino lá na categoria sub-15 na época e aí foi amor à primeira vista.
– Quando eu chego no Centro Olímpico e vejo aquelas meninas jogando e as razões pelas quais elas escolhiam jogar futebol e o que elas venciam pra estar ali. Então, pra mim, foi um privilégio muito grande poder me conectar a elas e trilhar minha carreira, a partir daquele momento.
Com a escolha da carreira em uma época que o futebol feminino ainda não era midiático e, tampouco, valorizado, o treinador revela os fatos que o marcaram durante o caminho.
– O que me marca todos os dias é que elas não sabotam a escolha de vida que elas fizeram. As mulheres que escolhem futebol, elas honram muito cada minuto que estão dentro do campo. Elas não trapaceiam. Elas são muito sinceras, muito honestas conosco, consigo mesmo, e entregam tudo que tem. Então, eu acho que isso que eu percebi do futebol feminino desde o primeiro dia, foi o que eu vi ao longo do tempo. E eu tenho o prazer de ver isso até hoje acontecendo diante dos meus olhos.
Jonas Urias no comando do time feminino do Centro Olímpico — Foto: Redes sociais
Do Centro Olímpico, Jonas Urias seguiu para Recife, onde treinou o Sport no Campeonato Brasileiro, sendo a última vez que disputou a competição até agora. Em 2019, o treinador foi convidado para assumir a equipe sub-20 da Seleção feminina, que passava por grandes mudanças nas categorias de base.
– Quão grandioso foi viver a Copa do Mundo da Costa Rica com a Seleção sub-20. Ali, a gente cria um ambiente, o Sempre Juntas, que era o nosso lema. Era algo que nós já sabíamos que era grandioso, pois transformou aquelas pessoas que viveram o nosso contexto.
Com a terceira colocação no Mundial, Jonas foi convidado para estar com a Seleção principal na Copa do Mundo Feminina, como observador de futuros adversários do Brasil. A experiência, segundo o treinador, foi grandiosa, mas o resultado não foi o esperado. A seleção brasileira foi eliminada na primeira fase, e Jonas deixou o comando da base em seguida. Os ensinamentos daquele momento estão sendo colocados em prática no Cruzeiro.
“O Brasil se tornou competitivo, mas acho que a gente e afastou da nossa identidade.”
– Eu saio da Sub-20 com muita convicção, vou para a Copa do Mundo, e o revés me faz ser mais convicto ainda, de que o futebol é uma expressão, uma forma de expressão popular, uma expressão pessoal. E a gente só é capaz de expressar nosso íntimo, nosso criativo, o que é realmente a nossa essência quando é fomentada a identidade que nós temos. Então, quando eu chego, inclusive, nas Cabulosas, eu trago isso para cá e eu falo sobre isso no meu primeiro dia aqui.
Família e paixões
Hoje, Jonas coloca o Cruzeiro como uma de suas paixões. Mas a sua família, composta pela esposa Larissa e pelo filho Daniel, são peças importantes para que o treinador aceite vir para Belo Horizonte e siga motivado em levar as Cabulosas a mais uma quebra de tabu.
– O Dani foi o que se adaptou mais rápido a Belo Horizonte. Ele gosta muito de estar aqui, acho que o clima aqui é gostoso pra ele, ele tá sempre brincando. Adora as pracinhas, os parques. Ele não pode ver um gramadinho que já quer brincar. E eu gosto muito também, porque eu sinto minha família muito bem-vinda aqui dentro do clube. Então, quando tem jogos, o Dani já puxou a fila das Cabulosas duas vezes, né? Na final do Mineiro, ele apareceu na Globo e no Fantástico. O Dandan puxou a fila das Cabulosas na final do Mineiro e foi muito especial.
Daniel, filho do Jonas, no colo da capitã do Cruzeiro Camila Ambrozio — Foto: Cruzeiro
O treinador espera que em Belo Horizonte, consiga impactar a vida do torcedores celeste, marcando a história das Cabulosas e levando o futebol feminino para mais lugares.
– Eu resumiria que as minhas paixões, que acabam sendo traduzidas em trabalho, em conversas, em reuniões pedagógicas e tudo mais, é impactar a vida das pessoas. Eu acho que o futebol é uma grande porta para isso. Eu quero trazer grandes mensagens, eu quero impactar positivamente, eu quero sempre ter compromisso com essas mulheres que eu tenho a honra de lidera. Quero que elas saiam e possam levar isso e fala que foi bom trabalhar com ele, eu sai melhor por ter cruzado com o Jonas.