Com gols e assistências decisivos, Estêvão Willian brilha pelo Palmeiras e já é tido como a grande sensação do Campeonato Brasileiro. Vendido aos 17 anos, o meia-atacante tem apenas mais apenas uma temporada no país antes de se transferir ao Chelsea, da Inglaterra. Realidade dura para o Cruzeiro, que verá o clube paulista lucrar pelo menos 45 milhões de euros (R$ 262,1 milhões) com um jogador que deu os primeiros passos na Toca da Raposa.
Devido às turbulências que viveu fora de campo entre 2019 e 2022, o Cruzeiro perdeu as duas maiores promessas de sua base em menos de um ano. Estêvão chegou à Toca da Raposa em 2017. Um mês após completar 14 anos, em 2021, o garoto assinou contrato de formação com o Palmeiras e se mudou para São Paulo.
Esse foi o primeiro baque sofrido pelo Cruzeiro, que também perdeu o atacante Vitor Roque em abril de 2022. Na época, a jovem estrela do Barcelona trocou a equipe celeste pelo Athletico Paranaense. O Furacão pagou a multa rescisória do atleta, considerada baixa para os padrões de mercado.
Estêvão Willian deixou o Cruzeiro sem contrato
Estêvão Willian está acostumado aos holofotes desde que era uma criança. Dotado de grande habilidade e refino técnico, o meia-atacante passou a ser chamado de ‘Messinho’ ainda na infância, quando encantou torcedores, dirigentes e marcas. Aos 10 anos, o menino de Franca, no interior de São Paulo, tornou-se o atleta mais jovem a ter contrato com a Nike.
Em maio de 2019, Estêvão ganhou os noticiários nacionais pela primeira vez, quando foi envolvido em escândalo de irregularidades cometidas pela diretoria do Cruzeiro.
Uma reportagem da TV Globo revelou que o então vice-presidente de futebol (2018-2019), Itair Machado, colocou os direitos econômicos do jogador como garantia de pagamento a um empréstimo feito por empresários. A ação é ilegal e fere conjunções da Lei Pelé, da Fifa e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Pai de Estêvão, Ivo Gonçalves trabalhou no Cruzeiro durante esse período. Entre 2019 e 2021, o homem ocupou o cargo de assessor de relações sociais e captação (olheiro) do clube.
No ano em que o esquema foi exposto, a Raposa entrou em grande crise esportiva e administrativa. Rebaixado à Série B no fim da temporada, o Cruzeiro passou por dificuldades financeiras nos anos seguintes.
Sem conseguir ampliar o vínculo com Estêvão, a diretoria celeste viu o meia-atacante se transferir para o Palmeiras em 2021. O presidente da Raposa era Sérgio Santos Rodrigues (2020-2023), que criticou publicamente o Verdão.
Em nota publicada nas redes sociais, o Cruzeiro acusou o coordenador das categorias de base do Palmeiras, João Paulo Sampaio, de aliciamento e comportamento inadequado. O dirigente negou as acusações.
Em junho de 2024, o Palmeiras acertou a venda de Estêvão ao Chelsea. A equipe alviverde pode receber até 61,5 milhões de euros (R$ 358 milhões) pela negociação. São 45 milhões de euros (R$ 262,1 milhões) fixos, e 16,5 milhões de euros (R$ 96,1 milhões) em metas esportivas.
Cruzeiro perdeu Vitor Roque por ‘valor baixo’
Vitor Roque chegou ao Cruzeiro em 2019, por meio de uma peneira forjada para tirá-lo do América. Já que não poderia firmar vínculo profissional com o atleta de 14 anos, o clube garantiu emprego ao seu pai, Juvenal Ferreira.
A função dada ao homem foi de olheiro, cargo similar ao que deram ao familiar de Estêvão. O movimento de bastidores foi feito pela gestão de Wagner Pires de Sá, presidente do Cruzeiro entre 2018 e 2019.
Em abril de 2022, poucos meses após subir ao time profissional, Vitor deixou a Toca da Raposa. O Athletico Paranaense pagou à vista a multa rescisória de R$ 24 milhões – valor baseado no que atacante de 17 anos recebia de salário.
Sua passagem pelo Furacão durou menos que dois anos, pois, em julho de 2023, Vitor foi vendido ao Barcelona. Ele se transferiu no fim do ano passado para a equipe espanhola.
O Barça pagou valor fixo de 40 milhões de euros (R$ 213,4 milhões). Se o jovem cumprir com todas as metas previstas em contrato, a transferência chegará à marca de 74 milhões de euros (R$ 396 milhões).
Após a saída para o Athletico, os lados envolvidos na negociação se pronunciaram em diferentes momentos. Ex-dono do Cruzeiro (2022-2024), Ronaldo Fenômeno disse que a transferência de Vitor foi feita ‘na calada da noite’.
O empresário André Cury e o então CEO de futebol do Athletico, Alexandre Mattos (que hoje trabalha na Toca), rebateram as falas de Ronaldo e deram outra versão do ocorrido.
Até hoje, o Cruzeiro recorre o valor na Justiça. A diretoria do clube move ação na Câmara Nacional de Resolução e Disputas (CNRD) para ganhar quantia maior, baseada em uma proposta de aumento salarial feita à época e recusada por Vitor.
Como não detinha percentuais de Estêvão e Vitor, o Cruzeiro lucrou pouco com as duas transações. A Raposa recebeu apenas os valores previstos pelo mecanismo de solidariedade da Fifa.
- Venda de Vitor rendeu 418 mil euros ao Cruzeiro (cerca de R$ 2 milhões)
- Venda de Estêvão pode render até 209,1 mil euros (cerca de R$ 1,2 milhão)
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