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André Esmeriz, especial para o ESPN.com.br
23 de fev, 2024, 06:00
Quem olha a tabela do Campeonato Paulista pode estranhar o Novorizontino com a terceira melhor campanha na classificação geral, superando gigantes como São Paulo e Corinthians. Seria leviano falar em “sorte”. O atual momento é fruto de um trabalho que começou há 14 anos.
Fundado em 2010, o Novorizontino chegou para ocupar uma lacuna deixada no coração dos moradores de Novo Horizonte – cidade a 180 km de distância da capital paulista – desde a extinção do Grêmio Esportivo Novorizontino.
Do clube que foi vice-campeão paulista em 1990, perdendo a “final caipira” para o Bragantino, de Vanderlei Luxemburgo, o Novorizontino herdou as cores (amarelo e preto), o mascote (tigre) e o estádio (Jorge Ismael de Biasi). O que mudou então?
Ex-jogador do Grêmio Esportivo, Genilson da Rocha Santos foi o responsável pela ascensão meteórica do Tigre no cenário estadual e nacional. Na presidência do clube desde 2012, o dirigente revelou que o segredo do sucesso é fazer o “feijão com arroz”.
“Não tem como você já começar grande. Primeiro passo foi montar uma equipe de profissionais, pessoas de confiança e qualidade. O clube ainda não tinha todos departamentos, mas sempre procurei colocar grandes profissionais. Dentro desse processo, procuramos crescer de forma conjunta, futebol, estrutura. No Brasil, você fazendo o simples, mas bem feito, já deixa muitos clubes para trás. Assim todo mundo foi vendo que é um clube que trabalha corretamente”, contou Genilson da Rocha.
Embora a evolução na estrutura seja notória, o Novorizontino sabe que precisa melhorar para atingir o seu grande objetivo: a Série A do Campeonato Brasileiro. Por isso que o clube está finalizando a construção de um novo Centro de Treinamento para a equipe profissional. A previsão é que as obras sejam finalizadas até maio.
“Você não pode pensar só em ter um elenco bom, os jogadores precisam de um departamento médico, de uma academia boa, uma série de coisas para melhorar a performance. Quem se preocupa com a estrutura do clube também dá um salto em relação aos outros. O Novorizontino não fez um investimento de uma vez só, mas foi qualificando aos poucos seus departamentos. Hoje estamos no processo de construção de um novo CT para a equipe profissional. Até a metade de maio vai estar pronto. Isso vai nos dar uma sustentação boa para atingirmos nossos objetivos”, afirmou o dirigente.
No fim do ano passado, o Novorizontino deu mais um passo para sua consolidação no cenário nacional. Em Assembleia Extraordinária realizada no dia 6 de dezembro, foi aprovada a transformação da associação em SAF. O clube então passou a se chamar Grêmio Novorizontino Sociedade Anônima do Futebol.
“O Novorizontino dá esse importante passo com o objetivo principal de melhorar e profissionalizar ainda mais o clube como um todo. É uma SAF diferente, a primeira a ser 100%, é uma transformação e não uma aquisição da SAF ou associação. O Novorizontino passa a ser unicamente uma SAF e a primeira associação a ser 100% transformada em SAF no Brasil”, disse Genilson, que mudou de cargo e se tornou diretor-presidente do Novorizontino SAF.
“Eu vejo assim… Hoje o Novorizontino é um modelo muito particular, eu procuro ter alguma coisa do Red Bull Bragantino em termos de gestão, mas não dá para comparar. Você tem o Flamengo, que tem por trás toda uma torcida, que ajuda e interfere de forma direta, e você tem o Palmeiras, que tem um investidor. Eu procuro observar muito as ações que o Palmeiras faz, como a manutenção de treinador, ter um trabalho forte nas categorias de base e ter sua própria forma de jogar. Para quem viu o sub-20 do Novorizontino na Copinha fica claro que a gente tem uma forma de jogar, uma mesma proposta quando defende, quando ataca. Tudo isso vem sendo treinado desde a base”, destacou.
Mas nem os melhores trabalhos estão livres de contratempos. Em 2022, o Novorizontino amargou o rebaixamento inédito para a Série A2 do Paulista, caiu na 1ª fase da Copa do Brasil e escapou na última rodada da queda no Brasileiro da Série B. Os erros cometidos durante a temporada serviram de aprendizados.
Para participar da reconstrução do Tigre, a diretoria escolheu Eduardo Baptista. Ex-Palmeiras, Fluminense, Sport e Ponte Preta, o treinador conquistou o acesso à elite estadual com o vice-campeonato da Série A2 e ficou a um ponto de subir para o Brasileirão.
“Eu acredito muito em continuidade. Quando você fica trocando, trocando, fica dependendo muito do encaixe. Uma coisa importante aqui é que temos o Genilson (diretor-presidente da SAF), o Luis Carlos Goiano (coordenador técnico), o Michel Alves (executivo de futebol) e eu. As decisões são tomadas por essas quatro pessoas. Temos dois acionistas, que dão liberdade para a gente. Acho que essa velocidade para tomar decisões, sem precisar passar pela aprovação de muitas pessoas, coloca a gente na frente de muitos clubes, principalmente em contratações”, destacou Eduardo Baptista.
É essa continuidade que coloca o Novorizontino na liderança do Grupo D e em terceiro lugar na classificação geral do Paulistão. A base do ano passado foi mantida e reforçada com as chegadas de jogadores experientes, como o lateral-esquerdo Danilo Barcelos (ex-Vasco, Botafogo e Fluminense), o volante Willian Farias (ex-São Paulo) e o atacante Lucca (ex-Corinthians, Fluminense e Internacional).
Mas até onde o Novorizontino pode chegar? Diretoria e comissão técnica estão com um discurso bem alinhado e trabalham com metas a curto prazo. O bom retrospecto contra os grandes, com vitórias sobre Corinthians (3 a 1) e Santos (2 a 1) e empate com o Palmeiras (1 a 1), faz o clube sonhar com algo a mais.
“Quando começa o Campeonato Paulista, o primeiro objetivo é atingir a pontuação de permanência o mais rápido possível. Agora que atingimos, nosso objetivo é a classificação. Todos querem ser campeão, porém o Novorizontino foca muito em cada fase da competição, para não comer o bolo antes do parabéns. Mas o que o clube vem fazendo faz a gente sonhar. Jogamos de igual para igual com Corinthians, Palmeiras, Santos“, enalteceu o diretor-presidente da SAF.
No Grupo D do Paulistão, Novorizontino e São Bernardo estão empatados com 15 pontos, seguidos pelo São Paulo, que tem 14 e um jogo a menos. A próxima missão do Tigre será neste sábado (24), diante do Água Santa, às 16h (de Brasília), no Jorge Ismael de Biasi, em Novo Horizonte.