O futebol brasileiro enfrenta um círculo vicioso. Entra ano, sai ano e os problemas são os mesmos, com um agravante: não há ações concretas em andamento para mudar a realidade nem a médio nem a longo prazo. Nos últimos dias, três situações exemplificam muito bem a grave crise ética que atinge a maior paixão do brasileiro.
A criação de mais uma CPI para investigar o submundo do futebol brasileiro é o primeiro ponto. Em setembro do ano passado, a CPI das Apostas Esportivas fracassou na Câmara. Depois de seis meses de trabalho, chegou ao fim sem a votação do relatório final. Deu em nada. Agora, é a vez do Senado, que aprovou, nesta semana, mais uma CPI para apurar a manipulação de resultados no futebol brasileiro. Sou a favor de toda investigação. Mas ela precisa ter resultados concretos, como apontar culpados e melhorar a legislação, pelo menos. Sem isso, é dinheiro público jogado fora. Agora vai ser diferente? Torço para que sim.
Outro ponto é a fragmentação da venda dos direitos de transmissão no país entre 2025 e 2029. Divididos em bloco, os clubes estão bem distantes da formação de uma liga forte. Além de aumentar o desequilíbrio financeiro entre os times, o racha contribui para deixar a arrecadação bem abaixo do potencial. O ditado “unidos somos mais fortes” nunca fez tão sentido quanto nesse caso. Como não há qualquer sinal de conciliação entre as partes, tudo leva a crer que o futebol brasileiro vai piorar ainda mais a partir do ano que vem.
E há também a questão do Maracanã. Nesse sentido, é fundamental deixar o clubismo de lado para analisar o tema, mas beira o inacreditável clube X ou Y ser proibido de utilizar o estádio, construído e várias vezes reformado com dinheiro público. Há uma licitação em andamento, com diversos interesses em jogo, mas o Maracanã é uma referência internacional, palco de duas finais de Copa do Mundo. Deve e precisa ser explorado por todos os times. Não pode ser restrito a A ou B. Foram bilhões de reais de dinheiro do contribuinte investidos até hoje que não podem ser utilizados para ser um equipamento esportivo de poucos.
Diante de tal panorama, urge a necessidade de uma profunda reformulação estrutural no futebol brasileiro. Se as diferenças não forem deixadas de lado, não haverá futuro mais próspero e sustentável para todos os interessados: desde os pequenos clubes aos gigantes, passando por atletas e torcedores. Rivalidade é uma coisa, ser inimigo é outra completamente diferente. O Flamengo precisa do Vasco; o Palmeiras, do Corinthians; o Grêmio, do Inter, e por aí vai.
O 7×1 completará 10 anos em breve. E não tiramos lição nenhuma sobre ele.
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