Parece, mas não é sonho. Foi assim que Manchester City e Manchester United fizeram de mais um Derby um dos jogos mais legais de acompanhar nos últimos anos. Cada equipe teve a sua forma de atuar, e isso também foi encantador, valorizou ainda mais a atitude profissional dos jogadores em campo. No fim, o favoritismo dos donos da casa foi confirmado.
Tirando a ausência de Grealish, Pep Guardiola não teve problemas para escalar aquilo que tem de melhor. Doku foi o ponta-esquerda. Aké foi o lateral-esquerdo. Já Erik ten Hag seguiu com os muitos desfalques rotineiros. Lindelof atuou improvisado e Evans entrou na zaga. Reforçou o meio com a entrada de Mainoo. Bruno Fernandes jogou mais adiantado e Rashford pela esquerda.
Como Manchester City e Manchester United iniciaram o clássico válido pela 27ª rodada da Premier League 23-24 — Foto: Rodrigo Coutinho
Uma estatística específica ajuda a entender um ponto na explicação da vitória parcial do Manchester United. Foram oito finalizações bloquedas das 18 que o Manchester City executou antes do intervalo. A aglomeração racional dentro da própria área foi o maior motivo da manutenção da vantagem obtida antes dos dez minutos pelos Red Devils.
E o gol foi marcado em algo nitidamente planejado, ao menos para os instantes iniciais. A proposta com a bola era explorar as costas da defesa rival. Se Bruno Fernandes não é necessariamente um velocista para fazer isso e definir logo a jogada, é um jogador inteligente e capaz o suficiente de controlar o passe e esperar o deslocamento de um companheiro antes de serví-lo.
Rashford foi o alvo e marcou um lindo gol de fora da área. Poderia ter feito mais dois se não tivesse errado domínios e finalizações simples na sequência. Sempre atacando a profundidade, após o primeiro passe longo ter Bruno Fernandes como alvo. Ruben Dias esteve inseguro ao proteger as costas.
Onana se destacou não só pela maioria das iniciações desses ataques diretos, mas por ter feito defesas fundamentais em chutes de Rodri e Foden. Evans, Casemiro e Varane também se desdobraram para impedir gols e realizaram os muitos bloqueios já citados. Dalot e Lindelof tiveram naturais dificuldades para brecar Doku e Foden, mas passaram longe de comprometer.
Rashford abre o placar para o Manchester United contra o Manchester City — Foto: Reuters
Ten Hag fazia com que Casemiro entrasse na última linha de defesa para vigiar as infiltrações de Bernardo Silva no espaço entre Varane e Dalot. Inibiu essa jogada do City. Mainoo tentava fazer o mesmo com De Bruyne, mas a imposição física não era a mesma e a conexão entre o belga e Foden aconteceu mais vezes. McTominay também teve dificuldades para bloquear Rodri com frequência.
Mesmo com a derrota parcial em casa, não é possível dizer que o City fazia um jogo ruim. Tinha volume, encontrava os movimentos e a ocupação de espaços planejadas, combinações efetivas, ótima distribuição de Stones e Rodri, lado a lado na intermediária contrária, e fazia transições defensivas eficazes com Aké e Walker.
Haaland perdeu um gol incrível na única bola que recebeu em condições de marcar antes do intervalo, e Ruben Dias teve um início de jogo bem problemático ao defender a profundidade em seu setor. Pecados que fizeram a vantagem do United se consumar até o princípio da 2ª etapa.
O ritmo do City demorou um pouco a engrenar depois do intervalo. Parecia mentalmente menos confiante em arriscar algumas jogadas e só havia finalizado uma vez quando Foden marcou um lindo gol da intermediária. Um prêmio ao jogador mais agudo dos Citizens. Um duro golpe no United, que até conseguia trocar mais passes em relação 1º tempo, tentava arrefecer a pressão, mas sucumbiu.
Foden faz o primeiro gol do Manchester City contra o Manchester United — Foto: Getty Images
Com o empate, o nível avassalador da 1ª etapa foi retomado, e parecia questão de tempo para a virada. O mesmo Phil Foden, que depois da entrada de Julian Álvarez no lugar de Doku, passou a jogar pelo lado esquerdo, ampliou em linda tabela com De Bruyne. O belga seguiu encantando, assim como Rodri, ”bricando” de receber nas costas da primeira linha de pressão do United e distribuir pérolas.
Bernardo Silva, Stones e Aké foram outros nomes fundamentais na dinâmica e assertiva circulação de bola da equipe. Ainda deu tempo de Haaland se redimir do gol perdido na 1ª etapa. Amrabat, uma das peças que vieram do banco do United e entraram mal, perdeu para Rodri na saída de bola e o norueguês não perdoou.
O fim de jogo melancólico para o United representou a sétima derrota nos últimos dez confrontos com o arquirrival, mas o 1º tempo competitivo merece destaque, assim como os oito desfalques que aumentaram ainda mais a já conhecida distância entre as equipes neste momento.