Entrevista exclusiva de Felipe Massa ao Globo Esporte e ao ge sobre título da F1 em 2008
– Sempre disse que iria brigar até o final. Como a FIA e a FOM decidiram não fazer nada, buscaremos a correção desta injustiça histórica nos tribunais. O assunto agora está com os advogados e eles estão plenamente autorizados a fazer o que for necessário para que a justiça no esporte seja feita – declarou o ex-F1.
Felipe Massa com o troféu da vitória do GP do Brasil de 2008, sua segunda vitória em Interlagos — Foto: Rui Vieira/PA Images via Getty Images
O processo se baseia nas leis britânicas e francesas – nacionalidade da FIA. Detalha o contexto da corrida em Marina Bay e do campeonato em geral, e alega que Nelson Piquet, tricampeão e pai de Nelson Piquet Jr, revelou o episódio ao então diretor de provas da FIA Charlie Whiting ainda no GP do Brasil de 2008, no fim de semana de 2 de novembro.
Max Mosley (na época presidente da federação) e Ecclestone estavam presentes na etapa, a última do ano e que coroou Hamilton campeão, e teriam sido informados por Whiting.
Fiscais removem Renault batida de Nelson Piquet Jr no GP de Singapura da F1 2008 — Foto: PA Images
O trio, diz o documento, estava ciente “até 30 de novembro de 2008 e/ou antes da Cerimônia de Premiação que a batida foi ou, alternativamente e no mínimo, poderia ter sido deliberada”. O registro recorda que Ecclestone “persuadiu” Piquet a não divulgar que o acidente de seu filho foi proposital.
O que faria de Massa campeão – de acordo com o processo?
- O documento considera que, se tivesse agido corretamente, a FIA investigaria a batida antes de 30 de novembro de 2008 ou da cerimônia de premiação, realizada em Mônaco em 11 de dezembro;
- Com a análise em andamento, a FIA poderia adiar a cerimônia de gala que coroou Hamilton campeão e encerrou a possibilidade de recorrer aos resultados;
- A investigação concluiria que a batida foi intencional – assim como ocorreu na análise conduzida pela entidade em 2009, que levou à punição de Flávio Briatore, ex-chefe da Renault, e Pat Symonds, ex-engenheiro chefe;
- Ao considerar que os resultados do GP “foram afetados por fraude ou manipulação deliberada”, a FIA poderia cancelar a corrida ou atribuir pontos refletindo as posições anteriores à batida na 14ª volta. Massa liderava com dez pontos até então, Hamilton era segundo com oito e Kimi Raikkonen, terceiro, detendo seis pontos provisórios;
- Se a corrida fosse invalidada, Hamilton perderia os seis pontos e terminaria o campeonato com 92 pontos contra 97 de Massa, que não pontuou em Marina Bay. Contabilizar o resultado antes da batida também teria Massa pontuando mais que Hamilton, liderando à frente do britânico na prova.
Felipe Massa e Bernie Ecclestone no GP do Brasil da F1 em 2009; meses antes, o Singapuragate tornou-se público — Foto: Mark Thompson/Getty Images
Sem pontuar, Massa perdeu o título para Hamilton por um ponto de diferença: 98 contra 97. O caso só veio a público em 2009, no GP da Hungria. Na época, o regulamento esportivo da F1 só permitia a contestação de resultados até a cerimônia de premiação da FIA, que foi em 11 de dezembro.
Mangueira de reabastecimento presa na Ferrari de Felipe Massa no GP da Singapura de 2008 — Foto: EUGENE HOSHIKO/AFP via Getty Images
Como foi calculada a indenização?
Os valores estimados para a indenização de Massa de 64 a 150 milhões de libras (R$ 400 milhões até R$ 960 milhões), de acordo com a equipe do piloto, foram calculados por um especialista em casos complexos do gênero, que definiu o piso em 64 milhões de libras sem correção ou juros e esperando por um acréscimo no futuro.
Para isso, foi considerado o bônus de 2 milhões de euros (ou R$ 10 milhões na cotação atual) que Massa receberia da Ferrari pelo título. Levou-se em conta, também, a diferença entre o salário que ele poderia ter negociado como campeão mundial, e o que ele de fato recebeu na escuderia e na Williams até o fim de sua carreira na elite do automobilismo, em 2017.
Isso inclui também outros cargos na F1 e em outras categorias. Por fim, os especialistas contabilizaram as oportunidades de publicidade e patrocínio que o título poderia promover.
Nelsinho Piquet no julgamento do Singapuragate na FIA, em 2009 — Foto: Pascal Le Segretain/Getty Images
A FIA é responsabilizada por não investigar o incidente assim que soube ou em qualquer momento antes da cerimônia de premiação; permitir a consolidação dos resultados apesar da irregularidade da prova, e ocultar do público que Piquet havia informado a entidade sobre o caso, ainda em Interlagos.
Ecclestone e a FOM também são acusados de “deliberadamente desconsiderar” o próprio regulamento da F1 e induzir sua violação. Ele e Mosley, diz os autos, “concordaram em usar meios legais com a intenção de causar danos” a Massa.
Felipe Massa e Lewis Hamilton se cumprimentam antes do GP do Brasil de 2008, em Interlagos — Foto: Mark Thompson/Getty Images
O pedido solicita, formalmente, a adoção de esforços das partes convocadas para evitar a destruição ou modificação de documentos ligados ao caso que podem servir como provas.
Seis vezes campeão de construtores com Michael Schumacher, Todt chefiou a Ferrari de 1994 a 2007, um ano antes do escândalo. Na época da polêmica, porém, ele foi substituído como chefe por Stefano Domenicali, hoje presidente da F1, e já havia assumido a função de consultor especial até 2009.