Anderson Melo denuncia ataques homofóbicos no Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia — Foto: Reprodução Redes Sociais
– Eu, na verdade, estou no processo de acreditar no que aconteceu. Vendo as imagens eu ainda fico um pouco incrédulo. Saber que no século XXI a gente ainda passa por isso. Muito triste, é revoltante. O que eu senti, o que eu passei, ninguém tem que passar – desabafou Anderson, ao ge.
O post do desabafo na rede social tem seis vídeos com áudios que demostram o ataque sofrido, mas o atleta conta que tem mais de 20 vídeos salvos. Anderson fez boletim de ocorrência na cidade do Rio de Janeiro, assim que voltou da competição, uma vez precisou voltar de Recife na sequência do ocorrido.
– Os vídeos chegaram até mim, porque algumas pessoas estavam assistindo aos jogos pelo próprio site da Confederação Brasileira de Vôlei. Eles estavam falando que estava horroroso. A própria transmissão ao vivo do jogo. Parei para ver os jogos e percebi que, realmente, dava para escutar os gritos de homofobia, que vinham para mim. Consegui recuperar onde ficam armazenados os nossos jogos – contou.
– Eu perdi minha mãe em agosto do ano passado. Estou no processo de luto. Eu não tive reação, principalmente no primeiro set. Eu não conseguia jogar porque estava chorando. Só que estava de óculos escuros e ninguém via. Eu só escutava a minha mãe falando no meu ouvido. Esse era o maior medo dela quando eu me assumi. Então, para mim, é bem difícil mesmo – conclui.
Durante a partida
No primeiro jogo do torneio principal, na chave de grupos, na etapa de Recife, Anderson Melo estava na areia ao lado de Lyan, que o chamava para a partida a todo momento. O ocorrido durou o jogo inteiro, mas apenas foi notado no meio do primeiro set.
– São nítidos os ataques de homofobia. Eu procurei a arbitragem apenas quando acabou o set. Eu estava tão fora de mim, que o atleta Léo Vieira entrou na quadra e falou: ‘Anderson, para o jogo. Já passou de todos os limites’. Foi quando caiu minha ficha do que estava acontecendo.
– Quando falei com eles, os organizadores da CBV chegaram próximo para ver quem eram os indivíduos, mas não conseguiram dizer quem era. Eles gritavam muito durante os ralis, então eu tentava ao máximo me concentrar no jogo. Fiquei até triste com a minha postura. Acho que poderia explodir, chamar a polícia, chamar atenção. Mas eu demorei para entender o que estava acontecendo – relembra.
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A CBV pretende encaminhar caso para o Ministério Público; confira nota
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) lamenta e repudia veementemente os ataques homofóbicos ao atleta Anderson Melo, feitos na quinta-feira por pessoas que assistiam aos jogos da segunda etapa do Circuito Brasileiro de Vôlei de Praia, em Recife.
A CBV apurou os fatos, reviu as imagens da partida, conversou com a arbitragem e reuniu todas as informações necessárias para, neste sábado, protocolar um boletim de ocorrência em uma delegacia de Recife. O caso também será encaminhado ao Ministério Público local e a CBV acompanhará todos os desdobramentos.
Desde sexta-feira, a mensagem abaixo é veiculada antes de cada partida da quadra central.
“Atenção, torcedores! Racismo, homofobia e outros atos discriminatórios são crime, e não podem fazer parte dos eventos do voleibol brasileiro. Manifestações como as ocorridas nas quadras externas não podem se repetir. Esporte é diversidade, tolerância, respeito e inclusão! E respeito é um dos maiores valores que o esporte ensina! Vamos torcer com paixão! O voleibol por um mundo sem preconceito e discriminação!”
A CBV lamenta que Anderson Melo tenha sofrido essa violência e está prestando todo o auxílio ao atleta. A CBV reforça que não admite qualquer tipo de preconceito, entende que o esporte é uma ferramenta para propagação de valores como respeito, tolerância e igualdade; e agirá sempre para coibir qualquer manifestação discriminatória em seus eventos.
Banco do Brasil e ministra Anielle Franco se pronunciam
Em comentários na postagem de Anderson Melo relatando o caso de homofobia que sofreu, o Banco do Brasil – principal patrocinador do vôlei brasileiro e que dá nome ao circuito nacional de vôlei de praia – diz apoiar o esporte como espaço de respeito. A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, manifestou apoio ao jogador e o chamou para uma conversa privada. “Agiremos juntos”, escreveu ela. Atletas e nomes de peso, como Gabi, Fabi (hoje comentarista da Globo), Macris, Carol Gattaz, Nalbert (também comentarista da Globo), Ana Patrícia (dupla com Duda, classificadas para Paris 2024), deixaram apoio a Anderson.
Repercussão do caso de homofobia sofrida pelo jogador Anderson Melo — Foto: Reprodução/Instagram