Atualmente pastor em um projeto social que ajuda centenas de crianças e adolescentes em Belo Horizonte, onde mora com a família, ex-zagueiro do Atlético-MG e da Seleção Brasileira relembra das aulas de piano, da dupla com Luizinho, dos gols pela Seleção e da medalha de prata em Seul, em 1988, com Romário, Bebeto e Taffarel: “Gosto amargo. Mas hoje eu me alegro”.
Batista trabalha como pastor em BH — Foto: João Batista/Arquivo pessoal
Aos 62 anos, Batista é um dos líderes do Central da Vila, inciativa da Igreja Central Batista que presta apoio a famílias da região de Papagaios, uma das maiores favelas da capital mineira. O projeto oferece escola de educação infantil e apoio social e religioso para as famílias da comunidade.
“É um projeto que sempre precisou e eu senti que eu deveria ajudar, usar minha história para apoiar também a transformação social desses meninos. É muito lindo”, contou.
Para Batista, ajudar no projeto social representa devolver à comunidade tudo que o futebol proporcionou a ele.
– O futebol traz um novo horizonte pra gente. Através do esporte, eu conheci coisas e lugares, conheço 5 continentes do mundo, e isso pôde me ajudar, trouxe um fundamento para minha vida. Hoje eu tenho minha família e tenho melhores condições do que quando eu comecei. Agora, os meus filhos podem viver a partir daquilo que eu construí.
Quase pianista
Se hoje a fé é o caminho seguido por Batista, na adolescência, por pouco, não foi a música que comandou o destino dele. O sucesso nas aulas de piano no Conservatório Estadual, em Uberlândia, cidade onde nasceu e cresceu, chamava a atenção.
– Eu lembro direitinho da minha professora falando ‘você tem talento’, mas era muito difícil. Não tinha condições financeiras de ter um piano. Hoje, tem criancinha que tem um teclado, mas naquela época não existia isso. Mas minha professora me encorajava bastante.
Para a sorte do futebol, Batista desistiu da música e optou por seguir sua outra paixão. Foi jogando bola – e sendo campeão – em um torneio de várzea em Uberlândia que ele recebeu a primeira oportunidade como atleta profissional.
– O presidente do Uberlândia na época, José Aparecido Martins, estava vendo o jogo, e quando terminou, nós fomos campeões. Aí ele falou para fazer um teste na Uberlândia, e eu fui. Fiz o teste e o técnico gostou. Eu fui como um volante, depois que ele me colocou ali pra treinar mais na zaga.
Efetivado na nova posição, o auge de Batista no Verdão da Mogiana foi em 1984, ano em que o time conquistou a Taça de Prata de 1984, que equivale à atual Série B do Campeonato Brasileiro. No mesmo elenco, outro jogador também chegou à Seleção Brasileira: Vivinho, ex-Vasco e autor de um gol emblemático em São Januário, contra a Portuguesa.
Uberlândia campeão em 1984; Batista é o primeiro uniformizado em pé, da esquerda para a direita — Foto: Reprodução/Canal UEC
Chegada ao Galo e dupla com Luisinho
O bom desempenho no interior fez com que Batista chamasse a atenção dos clubes mais poderosos. No ano seguinte, o zagueiro foi contratado pelo Atlético-MG. Foi lá que ele formou a histórica dupla com Luisinho, considerada por alguns a melhor parceria defensiva que o Galo já teve e responsável por quatro títulos do Campeonato Mineiro: 1985, 1986, 1987 e 1989.
– Eu era um jogador viril, forte e rápido, com uma boa marcação, eu tinha talvez como a minha maior qualidade, ser um grande marcador. E tinha o Luisinho com aquela categoria, nunca vi um jogador com a qualidade como a dele – relembrou Batista.
Atlético-MG, Barista, zagueiro — Foto: Arquivo Pessoal
Invicto com a Amarelinha
O sucesso da dobradinha com Luisinho fez com que Batista encontrasse o parceiro de Galo também na Seleção Brasileira. A primeira chance chegou em 1987, quando ele foi chamado pelo técnico Carlos Alberto Silva para uma série de amistosos na Europa. Convite que foi comemorado juntos com os colegas de clube.
– Eu morava junto com o Elzo, que tinha também passado pela Seleção Brasileira, e em 1986 disputou a Copa do Mundo. A gente pegava um radinho para ouvir o momento da convocação, e já tinham me falado que eu estava em uma lista de 40 atletas que poderiam ser convocados, então fiquei naquela expectativa. Quando nós recebemos a notícia, eu, meus amigos e colegas de casa comemoramos juntos, foi uma vibração doida.
“O jogador hoje almeja mais ir pro pro exterior, para o time europeu, enfim, jogar no Real Madrid e Barcelona, na Inglaterra, jogar nos grandes clubes, fazer carreira, ganhar dinheiro. Claro que isso também faz parte, mas anteriormente, [o sonho] era a Amarela. Nós tínhamos esse desejo, essa ambição maior de jogar na Seleção Brasileira”, opinou Batista.
A estreia ocorreu em um amistoso contra a Finlândia, vencido pelo Brasil por 3×2. Batista foi acionado no segundo tempo no lugar de Geraldão, do Cruzeiro. Mas a entrada do zagueiro acabou ofuscada pelo feito de outro jogador: foi nessa partida que Romário marcou seu primeiro gol pela Seleção.
Ao todo, Batista disputou sete jogos pela Seleção adulta e encerrou a carreira invicto com a Amarelinha: foram seis vitórias e um empate. A trajetória ainda teve direito a um gol marcado, de cabeça, em duelo contra a Alemanha Ocidental em Brasília.
– O time europeu, principalmente a Alemanha, é muito bom em bola alta, mas eu também tinha como uma das minhas maiores qualidades o tempo de bola. Então o Pita [meia ex-São Paulo] bateu escanteio do lado direito e eu vim já com um impulso e subi mais alto que toda a defesa.
“Foi muito emocionante mesmo ter feito este único gol que eu fiz pela seleção, foi com muita alegria. Um momento importante de afirmação como jogador e da minha minha posição na seleção brasileira, rompendo essa Barreira alemã”, completou
Os jogos de Batista pela Seleção Brasileira
Data | Jogo | Local |
28/05/1987 | Brasil 3×2 Finlândia | Helsinque (FIN) |
01/06/1987 | Brasil 4×0 Israel | Tel-Aviv (ISR) |
09/12/1987 | Brasil 2×1 Chile | Uberlândia |
12/12/1987 | Brasil 1×1 Alemanha Ocidental | Brasília |
03/08/1988 | Brasil 2×0 Áustria | Viena (AUT) |
12/10/1988 | Brasil 2×1 Bélgica | Antuérpia (BEL) |
15/03/1989 | Brasil 1×0 Equador | Cuiabá |
Medalha olímpica com Romário e Taffarel
Além dos jogos pela seleção principal, Batista também foi selecionado para representar o país nos Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Na época, só podiam disputar os Jogos no futebol atletas que nunca tivessem jogado uma Copa do Mundo. A regra não impediu que o Brasil montasse uma seleção forte, com nomes como Romário, Taffarel e Bebeto.
No torneio, Batista participou de dois jogos da primeira fase – duas vitórias, contra Iugoslávia e Austrália. Depois de passar por Argentina e Alemanha, o Brasil chegou à final contra a União Soviética bem próximo de conquistar o primeiro ouro olímpico para o país na modalidade. Mas a derrota por 2 a 1 na prorrogação adiou a realização do sonho, que só aconteceria três décadas depois, na Rio-2016.
– Nós não curtimos muito aquela medalha de prata, era uma pressão grande que a gente estava, é como se tivesse deixado escapar. Por isso que talvez tenha aquele gosto amargo um pouquinho. Mas hoje eu me alegro demais de curtir minha medalha aqui, às vezes mostro alguns amigos, enfim, eu fico muito feliz.
Seleção medalhista de prata em 1988; Batista é o segundo em pé, da direita para a esquerda — Foto: Getty Images
Aposentadoria em Portugal e entrada na política
Com a chegada do técnico Sebastião Lazaroni na Seleção, Batista aos poucos perdeu espaço nas convocações. Em 1990, ele deixou o Atlético-MG e jogou por Guarani e Athletico antes de se transferir para o Tirsense, de Portugal, onde jogou até se aposentar em 1997.
Depois de pendurar as chuteiras, Batista planejava aproveitar a formação em Educação Física para seguir no ramo do futebol. Mas, a convite do ex-goleiro João Leite, ídolo do Atlético-MG e eleito deputado federal na época, decidiu mudar os rumos da aposentadoria e se tornou assessor parlamentar.
JOão Leite, Batista, Cidadão, Belo Horizonte — Foto: Arquivo Pessoal
– Sempre tivemos uma amizade muito grande. Eu estava me preparando de fato para continuar na área esportiva, como treinador, como preparador físico, mas as circunstâncias me levaram a outros caminhos.
Batista seguiu como assessor de João Leite até 2014, quando deixou o cargo para se dedicar ao Central na Vila. Apenas mais uma mudança na carreira do jogador que foi de quase pianista a medalhista olímpico e titular da Seleção.
Batista comemora com a medalha de prata conquistada em Seul 1988 — Foto: João Batista/Arquivo pessoal