Nossa bandeira sempre será verde e amarela. E vermelha e com as cores do arco-íris e com todas as outras que se quiser.
O show da Madonna na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, na noite deste sábado (4), foi histórico por várias razões: a capacidade do Brasil em realizar grandes eventos, a vocação do Rio – com todos os seus problemas – como cidade turística e acolhedora, entre muitos outros.
O principal de todos, no entanto, talvez tenha sido mesmo o mais irônico. E foi preciso que este motivo viesse de fora para tal tarefa. Foi necessário que uma das mais significativas cantoras do mundo nos restaurasse as nossas múltiplas cores, entre elas o verde e o amarelo.
Com a sua desfaçatez, coragem e talento, Madonna arrancou a surrada camisa da seleção brasileira de futebol das mãos dos fascistas e a devolveu ao povo. E o povo de quem se fala aqui é o mais odiado por eles: o LGBTQIA+. E, de quebra, os negros, as mulheres, camelôs, populações em situação de rua e toda a sorte de gente que vagueia pelo bairro mais famoso da mais bela capital do país.
Tudo foi festa e tranquilidade enquanto Madonna e Pabllo Vittar se esbaldavam no palco com o nosso estandarte positivista, muitas vezes tão avesso ao que se via e vivia naquela noite em Copacabana. A grande piada que circulou é que, finalmente desta vez, uma senhorinha de 65 anos usava o verde e amarelo do avesso. As marchadeiras de 64 e do Oito de Janeiro vão ter que mudar de figurino.
Tradição, família e propriedade
Entre beijos trans, lésbicos, gregos, simulações de masturbação, drag queens, Madonna quebrava a tradição. E nos mostrava que a família é muito mais ampla do que outrora desejaram; e a propriedade – a praia, o mar, o vento e o ar de liberdade – é de todos.
E todos fomos e somos junto dela Marielle Franco, Cacique Raoni, Paulo Freire, Marina Silva, Marta, Caetano Veloso, Gil, Abdias do Nascimento, Maria Bethânia, Pelé, Mano Brown, Sonia Guajajara, Elza Soares, Erika Hilton.
E teve ainda Cazuza, Renato Russo, a homenagem às vítimas da Aids, os meninos ritmistas.
No final das contas, no passar da régua, pouco importa se não tinha músicos no palco, se a prefeitura pagou tanto e o Itaú mais tanto. Se Madonna não emplaca um sucesso há sei lá quantos anos. O que se viu nesta noite diz muito, mas muito mais sobre o Rio, o Brasil, o que somos e queremos ser, até mesmo do que da própria cantora.
Foi, enfim, inesquecível. Para todos nós, mas principalmente para quem quer esquecer.