Desde que subiu para a elite do futebol paulista e foi campeão estadual em 2002, quando os grandes não participaram por conta do extinto torneio Rio-São Paulo, o Ituano sempre foi figura carimbada no estadual mais disputado do Brasil. Pelo menos até este ano. Dez anos após o título paulista contra o Santos em 2014, o Galo de Itu sofreu pela falta de uma organização na montagem do seu elenco para este ano, fez a pior campanha do Paulistão este ano e vai disputar a Série A2 em 2025.
Na campanha deste ano, o Ituano terminou na lanterna do Grupo A, o mesmo do Santos, com apenas uma vitória, três empates e oito derrotas, com cinco gols marcados e 19 gols sofridos — a pior defesa da primeira fase do Paulistão. Após se classificar para a semifinal do estadual na temporada passada, eliminando o Corinthians nas quartas de final, a diretoria do time de Itu apostou, mais uma vez, na troca do seu elenco, mas os jogadores contratados para este ano não deram a “liga” necessária e os resultados não vieram.
Além disso, para boa parte da imprensa em Itu, o técnico Márcio Freitas não deveria ter continuado na equipe após o desempenho abaixo do esperado no Campeonato Brasileiro da Série B de 2023. A reportagem da Trivela conversou com Renato Alves, jornalista especializado na cobertura do Ituano, que deu o seu parecer a respeito dos motivos que levaram o Galo a disputar a Série A2 do Paulistão após 24 anos.
Apostas incertas e falta de organização nas contratações
Renato afirma que os problemas do Ituano neste ano começaram ainda na última temporada, quando o time terminou na 14ª colocação com 42, a três de distância para o Z4. Para o jornalista, o treinador deveria ter saído ao final da última temporada e foi um dos responsáveis pelo mal começo do Galo no Paulistão deste ano, quando somou apenas uma vitória em nove jogos no estadual. Ex-jogador do Palmeiras e do São Caetano, Marcinho acabou demitido do Galo de Itu após a eliminação do clube na Copa do Brasil para o São Luís-RS.
— O baixo desempenho do Ituano vem desde o ano passado com o Marcinho. O time já não vinha bem ano passado e se livrou do rebaixamento também na Série B. É muita aposta assim, trazendo muitos jogadores sem saber a real qualidade do atleta. Eu acho que para montar uma equipe para a Série B, que é um campeonato mais longo até vale, o problema é que quando trazemos para um torneio de tiro curto como o Paulista, isso muda completamente e pode não dar certo — disse Renato.
O Ituano trocou 21 jogadores de seu elenco para esta temporada, se desfazendo de praticamente todo o time que chegou às semifinais do último Paulistão. Além disso, o clima com Marcinho não era dos melhores, já que o treinador não conseguiu extrair o melhor dos atletas até a sua demissão. Apesar do esquema de jogo ofensivo e visando propor o jogo, a relação dos jogadores com o seu comandante parecia desgastada e os resultados em campo mostravam que algo deveria ter sido feito antes.
— Ao todo, 21 jogadores foram dispensados e quem chegou não tinha a mesma qualidade. O departamento médico também estava um pouco cheio e penso que a insistência com o Marcinho, com os resultados que não vinham acontecendo, foram os pilares para esta queda do Ituano este ano. Apesar de nada oficial por parte do clube, percebíamos que algo estava estranho em campo por conta do comportamento dos jogadores. A quantidade de contratações erradas e a insistência no comando do Márcio Freitas fizeram com que o clube infelizmente caísse — ponderou o jornalista.
Diretoria do Ituano se manifestou por meio de nota nas redes sociais
A reportagem da Trivela tentou ouvir algum representante da diretoria do Ituano, mas, até o momento da publicação desta matéria, não obteve resposta de nenhum integrante da administração. A diretoria chegou a publicar uma nota nas redes sociais lamentando o rebaixamento, mas relembrando que a gestão atual foi responsável por resultados positivos da equipe nos últimos anos, quando foi campeão estadual em 2014, vencendo o Santos, chegando às oitavas de final da Copa do Brasil em 2015 e sendo campeão da Série C em 2021.
Apesar do bom momento, o clube também reiterou que o Ituano chegou perto de cair em outras oportunidades, como em 2010, em 2013 e na última temporada, quando se salvou do rebaixamento contra o Santos, em vitória convincente por 3 a 0 e foi até as quartas de final da competição.
A nota publicada pelo clube ainda afirma que o rebaixamento para a Série A2 deste ano foi um “acidente de percurso” e que o clube terá a obrigação de voltar para a elite do futebol paulista em 2026. Sem a vaga na Copa do Brasil e tendo a Série B para disputar a partir de abril, o torcedor do Ituano aguarda por dias melhores e vai esperar ansiosamente pelo retorno do time à primeira divisão estadual.
Acompanhe a nota publicada pelo Ituano na íntegra abaixo.
É inegável que o Ituano não realizou uma boa campanha no Paulistão deste ano. Uma das piores desde 2010. Enfrentamos a mesma situação em outras quatro ocasiões. Escapamos do rebaixamento na última rodada em 2010 contra a Portuguesa no Canindé, no ano seguinte vencemos o Noroeste mas dependíamos de resultado que veio de outra partida. Em 2013, precisávamos vencer o Palmeiras no Novelli. A revelação da base, Marcão fez o gol aos 43′ do 2º tempo e no ano passado chegamos na última rodada precisando vencer Santos. Vencemos por 3 a 0 e ainda conquistamos a classificação para as quartas de final. Chegando depois às semifinais, após eliminar o Corinthians.
Esses fatos contrastam com as boas participações no próprio futebol paulista. Além da semifinal no ano passado, o Ituano também se classificou em 2022 e 2019. E há 10 anos foi campeão em eliminando o Palmeiras na semifinal e vencendo o Santos na final de 2014.
Em âmbito nacional, nesse período, fez sua melhor campanha na Copa do Brasil em 2015, chegando às oitavas de final. Foi campeão Brasileiro da Série C em 2021 e no ano seguinte fez sua melhor participação na Série B brigando pelo acesso até a última rodada.
Fora os resultados dentro de campo, também é inegável que essa gestão colocou o Ituano em outro nível dentro do futebol paulista e brasileiro melhorando a estrutura interna, oferecendo boas condições de trabalho para atletas e funcionários, e valorizando as categorias de base. Com atletas revelados em Itu jogando no exterior com merecido reconhecimento pela qualidade e talento. Exemplo maior é Gabriel Martinelli, que foi convocado mais uma vez para a seleção brasileira.
O que houve neste ano foi um acidente de percurso. Vamos lembrar que no Paulistão, dos 16 clubes, 11 disputam as duas principais divisões do futebol brasileiro. Assim como já houve com outros clubes recentemente aqui no futebol paulista. Clubes que também estão na Série B e retornaram para a A1 do Paulista no ano seguinte. Temos a obrigação de retornar no mesmo ano à Série A1. Retornaremos mais fortes!, disse o Ituano em nota.
Lucas de Souza
Esse é Lucas de Souza, redator e repórter do Futebol na Veia e da Trivela. Jornalista especializado em Marketing digital é também narrador do Portal Futebol Interior e da RP2Marketing.