A atual gestão do Corinthians, comandada pelo presidente Augusto Melo, ainda em seus primeiros meses de mandato, tem grandes desafios pela frente. Um dos principais é estancar a dívida do clube. O tamanho exato do déficit será revelado apenas daqui a cerca de 40 dias, para quando está prevista a divulgação do relatório da due diligence contratada pela diretoria. Mesmo assim, alguns valores prévios já foram revelados e contradizem balanços da gestão anterior.
Augusto Melo afirmou, em entrevistas recentes, que o valor real da dívida está acima da casa dos R$ 2 bilhões. Os detalhes serão revelados assim que a Ernst & Young, responsável pela due diligence, concluir o procedimento. O trabalho consiste em realizar uma investigação interna detalhada e avaliar riscos, finanças, operações, entre outros aspectos do clube.
Dados prévios foram divulgados pelo diretor financeiro Rozallah Santoro, em fevereiro, durante entrevista ao Meu Timão. Na época, ele disse que já se sabia de pelo menos R$ 1,6 bilhão de débitos acumulados. Dívidas de curto prazo, impostos federais e a Neo Química Arena são os três pontos centrais da dívida corintiana.
- Curto prazo: R$ 400 milhões (R$ 217 com empresários)
- Impostos federais: R$ 550 milhões
- Neo Química Arena: R$ 706 milhões
Como a antiga gestão tratou a dívida?
Ao deixar a presidência do Corinthians, Duílio Monteiro Alves colocou como grande mérito de sua gestão o controle de gastos e a redução da dívida corintiana. O balanço parcial divulgado pela diretoria em agosto de 2023 indicava uma dívida de R$ 892,5 milhões, mas a projeção para dezembro era de uma redução para R$ 840 milhões. Isso representa uma redução de 109,2 milhões da dívida deixada por Andrés Sanchez, líder do grupo de Duílio, em 2020, ano de término de seu último mandato.
Dívida do Corinthians de 2020 a agosto de 2023, conforme balanços da antiga gestão:
- 2020 – R$ 949,2 milhões (último ano da gestão Andrés)
- 2021 – R$ 912,0 milhões
- 2022 – R$ 910,5 milhões
- 2023 – R$ 892,5 milhões
No primeiro ano de seu mandato, Duílio contratou as empresas KPMG e Falconi para auxiliar na reestruturação financeira, mas sem grande participação no departamento de futebol. Sem títulos ao fim do triênio, apegou-se ao discurso de “colocar a casa em ordem”. “Nesses últimos três anos, não tenho dúvida nenhuma, o trabalho do Corinthians, administrativamente e profissionalmente, não perde em nada para Palmeiras e Flamengo. Em título, perdemos para eles, é claro”, defendeu-se em coletiva no mês de dezembro.
O que mais a diretoria está fazendo e pode fazer para equilibrar as contas?
Em meio às dívidas, o Corinthians tem de se virar para arcar com uma folha salarial na casa dos R$ 20 milhões, valor que considera coerente frente à necessidade de trazer também resultados esportivos, até porque 30% do dinheiro dos direitos televisivos depende do rendimento em campo. Este dilema nos esforços de equilibrar desempenho e contas é um dos principais desafios dos clubes endividados, conforme destacam especialistas.
“Como em qualquer organização endividada, o desafio é sempre gerar receitas com volume capaz de cobrir os custos operacionais e amortizar a dívida. O que historicamente acontece em alguns clubes de modelo associativo é a preocupação com curto prazo, contratações de alto valor para dar competitividade ao time e como consequência o aumento da dívida”, comenta Ivan Martinho, professor de marketing esportivo pela ESPM, sobre situações como a do time paulistano.
“Gastar menos que seus principais rivais, aceitar que gastando menos, vencerão menos, e que ainda assim, precisam manter torcida mobilizada para arrecadar mais. Parece impossível para a maior parte dos clubes, mas a história do Corinthians já deu mostras de que sua torcida e sua participação podem crescer mesmo sem títulos, como se deu até a conquista de 1977. O Corinthians é um clube peculiar, inclusive por ser o único dos chamados “clubes de massa” cuja torcida suporta um modelo de jogo reativo”, acrescenta Thiago Freitas, COO da Roc Nation Sports no Brasil.
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Valores como os R$ 90 milhões da venda de Gabriel Moscardo ao PSG, quantia que ainda não está nos cofres do clube, serão usados para desafogar o Corinthians financeiramente. Há também grande expectativa referente à venda dos naming rights do CT Joaquim Grava, ainda em negociação.
Apesar de admitir que a diretoria está “sangrando para honrar os compromissos”, Augusto Melo já demonstrou otimismo de que, quando o clube recuperar a credibilidade no mercado, conseguirá explorar de forma melhor o potencial comercial do Corinthians. “Tem uma marca forte que dá retorno para qualquer tipo de investimento. O que basta é credibilidade. Estamos jogando limpo, transparente no mercado, porque a gente quer sair limpo no término do mandato”, disse em entrevista ao SBT.
“Algo mais do que básico é ter profissionais de alto nível em todas as cadeiras, como por exemplo, nas pastas de marketing e comercial”, comenta Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo. “Eles precisam enxergar possibilidades que vão além dos uniformes de jogo, tendo uma leitura real dos hábitos de consumo dos fãs para conectar produtos, além de colaborar na quebra das linhas de despesas da instituição através de marcas que sejam daquele determinado segmento.”