Carlos Castelo
Jornalista, sócio-fundador do grupo Língua de Trapo, um estilo sem escritor
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Melquíades decidiu montar um time de futebol para disputar a série D do Paulistão
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Melquíades apareceu pela Vila Sônia quando ali nem vila era. Começou a plantar uva isabel num terreno baldio e vendia o suco numa carroça puxada à força de mula. O negócio foi evoluindo até que virou fábrica: Maravilha Sucos S/A.
Tempos depois, quando já contava com centenas de funcionários, Melquíades decidiu montar um time de futebol para disputar a série D do Paulistão.
A Federação aprovou o Maravilha F.C. nos autos e foram para o primeiro embate contra a S. E. São João Novo. O esquadrão antagonista era tido como difícil. O campo em que jogavam era um capinzal alto e espesso. E a alcunha de alguns dos atletas já dava o tom da agremiação: Petardo, Bernardão, Quebra-Toco, Lobisomem, Mata-Mata e Gigante.
Ao apito inicial do árbitro – que participou do certame trajando colete à prova de balas –, o Maravilha partiu para o tudo ou nada. O centroavante Nélio, primogênito de Melquíades, foi servido pelo ala Zé Abílio, na entrada da pequena área. Dali mesmo, já meteu uma de sem-pulo, errou a bola, mas acertou algo com textura sólida: uma jaracuçu do rabo fino.
O ofídio saiu voando pelos ares são-joanenses e adentrou no ângulo direito do goleiro Portão. Com apoio do departamento financeiro da Maravilha Sucos S/A, o juiz validou o tento do visitante.
A comemoração no campo foi enorme. Mas, nas arquibancadas, enorme mesmo só a evasão da torcida depois que a cobra aterrissou nas cadeiras numeradas.
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