Palmeiras e Leila estão a R$ 24 mi de trocar uma relação de dependência por um elo de competência. Mas será que ela quer isso?
Leila Pereira, durante a abertura da Olimpiada da Criança, do Palmeiras (Foto: Fabio Menotti/Palmeiras/by Canon)

Faltam apenas R$ 24 milhões para o Palmeiras quitar a dívida involuntariamente contraída com a holding controlada por sua presidente Leila Pereira, da qual fazem parte Crefisa e FAM.

Foi em 2018 que, mediante uma denúncia, a Receita Federal transformou em empréstimos os repasses que Leila fazia para o Palmeiras contratar atletas. E que ela lançava em sua prestação de contas ao fisco como aquisições de propriedades de marketing.

A dívida começou em R$ 142,7 milhões. Em 2019, pulou para R$ 172,1 milhões. A partir de 2020, porém, a quantia foi diminuindo, sendo abatida do valor os prêmios por conquistas que receberia da patrocinadora. O valor caiu para R$ 65,7 milhões em dezembro de 2022. E fechou 2023 nos R$ 24 milhões revelados pelo ge e confirmados pela Trivela com fontes do clube.

É esse o montante que separa o clube e sua presidente de encerrarem uma relação que nasceu na base da dependência financeira, calçada em um contrato de patrocínio que é bom — e que já foi excelente — e evoluiu para agregar também um vínculo administrativo.

É uma ótima notícia para o clube, que está longe de ser a entidade pré-falimentar que Paulo Nobre colocou nos trilhos em 2015, à qual Leila associou suas marcas.

Como Leila, além de credora, é presidente do clube, deveria ser também uma ótima notícia para ela. Afinal, o dinheiro que havia sido emprestado a fundo perdido retornou para o seu caixa. E o clube que ela preside deixa de ter um boleto considerável para quitar.

Mas será esse o desejo de Leila Pereira? Com o fim do empréstimo e o fim do contrato da Crefisa, no fim do ano e de seu primeiro mandato, Leila se aproxima de uma situação jamais vivida por ela no clube.

Leila pode iniciar seu próximo mandato — sua eleição são favas contadas — apenas como presidente do Palmeiras, caso o clube receba uma proposta de outra empresa pelo patrocínio da camisa — provavelmente uma das muitas empresas de aposta que brotam do nada aos montes.

A patrocinadora já disse que abre mão do uniforme se receber uma oferta mais vantajosa. Mas tem a prerrogativa de igualar qualquer oferta feita.

Por muitos anos, Leila disse que pagava ao clube mais do que a camisa valia. Pois agora, pode estar prestes a ter de aumentar o montante que considerava exorbitante para ter o benefício de figurar no uniforme do maior campeão brasileiro.

Abel e Leila Pereira voltando de Minas Gerais, onde o Verdão conquistou o Bicampeonato Brasileiro (Cesar Greco/ Palmeiras/ By Canon)

A força da grana

Não é ofensa alguma dizer que Leila comprou a facilitação de sua entrada na política do Palmeiras. Não há aqui menção ou insinuação a algo ilícito. Mas é uma mera constatação dizer que, se Leila não fosse patrocinadora, sua ascensão de mera associada a presidente não se daria num intervalo de menos de uma década, como aconteceu.

Se não tivesse comprado o acesso à sede social, com patrocínios que vão de totens de álcool gel a promessa de reforma completa do enorme, mas arcaico, conjunto aquático alviverde, Leila não teria se tornado tão conhecida e influente em tão pouco tempo.

Mas o ponto é que, dinheiro à parte, Leila tem se mostrado uma boa administradora. Peita nomes graúdos do futebol, como Ronaldo Fenômeno, Julio Casares e Rodolfo Landim. Não se intimida com a CBF e nem baixa a guarda para a Globo ou a Conmebol. E ainda é recebida por Gianni Infantino, o manda-chuva da Fifa.

Tudo isso para dizer que Leila não precisa ser credora, tampouco patrocinadora, para ser uma boa presidente. Paulo Nobre inaugurou no clube a tradição de que presidir é abastecer o caixa. Mas Galiotte, por mais que tivesse Leila como aliada, não fiz um pix sequer de suas contas para as do Palmeiras. E conquistou duas Libertadores.

Muitos acertos

Foi Leila quem trouxe Anderson Barros, manteve Abel Ferreira, renovou os contratos de todos os principais jogadores do time-base, colocou de pé o Palmeiras Feminino, manteve João Paulo Sampaio nas categorias de base e, em última instância, tirou R$ 400 milhões do Real Madrid por um atacante que ainda não tem 18 anos.

Se decidir aceitar um dos muitos caminhões de dinheiro que diversas empresas de aposta já ofereceram e ainda vão oferecer ao Palmeiras para estampar seu nome na camisa dos times de futebol do clube, Leila vai colocar seu nome de vez na história alviverde.

Como administrador, afinal, não há mais mérito em fazer uma empresa andar com as próprias pernas, atraindo investimentos, do que colocar dinheiro do próprio bolso para que ela se mantenha?

Foto de Diego Iwata Lima

Diego Iwata Lima

Jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero, cursou também psicologia, além de extensões em cinema, economia e marketing. Iniciou sua carreira na Gazeta Mercantil, em 2000, depois passou a comandar parte do departamento de comunicação da Warner Bros, no Brasil, em 2003. Passou por Diário de S. Paulo, Folha de S. Paulo, ESPN, UOL e agências de comunicação. Cobriu as Copas de 2010, 2014 e 2018, além do Super Bowl 50. Está na Trivela desde 2023