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Apesar de ter dito nas redes sociais que estava com muita ansiedade para estrear como narrador da Globo, Paulo Andrade não deixou isso transparecer em sua primeira narração oficial no grupo hoje, no Morumbis, com São Paulo x Fortaleza no sportv. A estreia foi segura e totalmente coerente com o estilo que marcou mais de duas décadas do profissional na ESPN. A sensação de mudança veio por causa da competição.
Aqui vale uma pausa para contexto histórico: Paulo Andrade trabalha há praticamente 25 anos com esportes, desde que começou como voluntário no canal local ABC 3, na cidade de Santo André. Narrava jogos das equipes da região do ABC que eram exibidos posteriormente em VT. Sua primeira grande oportunidade em TV, após passagens curtas pela TV Gazeta e pela RedeTV!, veio em 2003 com o SBT na transmissão do Paulistão daquele ano. Curiosamente, um campeonato que foi disputado judicialmente pela emissora de Silvio Santos com a Globo, com guerra de liminares e incerteza da continuidade do projeto.
Meses depois da experiência no SBT, Paulo Andrade ganhou a chance de narrar na ESPN pelas mãos de José Trajano. A partir daí, cresceu e virou um dos principais nomes do canal pago, fazendo finais de Champions League diretamente dos estádios, ligando sua trajetória ao futebol europeu, e virando a ‘voz da Premier League’ no Brasil, tamanha ficou sua identificação com os jogos do Campeonato Inglês. Na ESPN, fez alguns jogos da Copa do Brasil quando a competição era sublicenciada pela Globo. E, mais recentemente, narrou partidas de times brasileiros pela Libertadores, incluindo as duas últimas finais, com Flamengo e Fluminense campeões.
Mas faltava o Brasileirão. Tirando algumas narrações para VTs curtos no canal local do ABC, Paulo Andrade não tinha feito ainda jogos ao vivo do principal torneio do futebol nacional. E ele há tempos sonhava em ter essa identificação maior com os torcedores de clubes brasileiros. Foi com empolgação que ele falava sobre a chance de narrar a Libertadores quando este colunista o recebeu em entrevista no YouTube, ainda em 2021. E essa mesma empolgação foi perceptível na estreia de hoje.
Nem parecia que Paulo Andrade chegou agora ao time da Globo. Comandou tranquilamente a transmissão, as chamadas de repórteres e entradas ao vivo, e rodou bem as participações dos comentaristas Lédio Carmona, este bagagem de duas décadas de experiência no sportv, e Alline Calandrini, nome mais recente no canal.
Em alguns momentos, dava para notar que a empolgação de Paulo Andrade com a chance que ele estava tendo pela primeira vez era até mais forte do que o clima do jogo, que começou bem morno, típico de uma estreia nos pontos corridos de um campeonato que é esmagado no calendário pelos estaduais – e que começa sob a ressaca deles. O São Paulo começa o Brasileirão sob desconfiança após eliminação nas quartas de final do Paulistão pelo Novorizontino, e o Fortaleza vem da perda do título cearense para o Ceará.
Mesmo assim, a narração de Paulo Andrade não tentou vender uma emoção que não existia. O narrador soube dosar bem o ânimo que ele pessoalmente tinha na estreia com o que o jogo estava entregando. Como sempre fez na ESPN, traduziu o que as imagens mostravam, sem inventar.
Será curioso notar, quando o profissional vier a ganhar oportunidades na TV Globo, se esse estilo será incentivado, ou se Paulo será orientado a subir mais o tom em jogos mornos para segurar a audiência do sinal aberto. Por enquanto, o que vimos no sportv é o tom correto.
Ainda foi preciso esperar 66 minutos até que o jogo melhorasse e o público pudesse finalmente ouvir o primeiro gol narrado por Paulo Andrade no sportv. E foi do Fortaleza, time visitante e jogando fora de casa contra uma equipe de São Paulo. Era o teste ideal para um narrador que tem pretensão de ficar marcado nacionalmente. Passou.
A emoção colocada na narração foi bem de acordo com o feito que o time de Vojvoda vinha conseguindo ao abrir o placar no Morumbis. Gol de Lucero. Fato que se repetiu no gol de Machuca, que abriu 2 a 0 para o time cearense. E que foi compatível com a narração no golaço de André Silva, que diminuiu o marcador para o São Paulo, apenas um pequeno tom acima devido ao fator surpresa com o chute que foi direto para as redes.
Vale também a menção ao fato de que todo o ambiente da transmissão contribuiu. O normal até hoje na carreira de Paulo Andrade foi narrar jogos que a ESPN recebia com sinais prontos das organizações, tanto em torneios da Europa como nas competições produzidas pela Conmebol, como a Libertadores. A estreia no sportv colocou o narrador em um jogo gerado inteiramente pela Globo, ainda mais com o sinal 4K.
É verdade que houve algumas falhas técnicas para quem viu no Globoplay, como este colunista, onde o sinal ficou intermitente em alguns momentos, e o som ‘estourou’ um pouco algumas vezes. Mas, no geral, até a voz de Paulo Andrade ficou valorizada pela qualidade tradicional das gerações de transmissões no famoso ‘padrão Globo’.
Como balanço final, a estreia mostrou que foi um absurdo o Campeonato Brasileiro ter ficado tanto tempo sem Paulo Andrade como narrador. O rendimento demonstrado hoje no sportv deixou claro que o narrador merecia muito o Brasileirão após 25 anos de carreira. Ainda falta o Brasileirão entregar alguns jogos melhores no geral dos 90 minutos, para que ele possa narrar mais momentos de emoção, como foi na reta final deste São Paulo 1 x 2 Fortaleza.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
