O preparador físico Diego Falcão não faz mais parte da comissão técnica da seleção feminina de basquete do Brasil. O desligamento foi comunicado neste sábado, após reunião da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) na sexta-feira. Falcão deixa o cargo após repercussão de publicações contra o aborto, nas redes sociais, e pedido feito pelas atletas.
Diego Falcão, ex-preparador físico da seleção brasileira de basquete — Foto: Reprodução
Duas das principais jogadoras da seleção, Clarissa dos Santos e Damiris Dantas se posicionaram contra a permanência do preparador físico. Outras atletas também se posicionaram. As jogadoras foram ouvidas antes da decisão da CBB.
Diego Falcão estava na seleção feminina desde 2019. Ele chegou à comissão técnica junto com José Neto, com quem também já havia trabalhado na seleção brasileira masculina de basquete, no Flamengo, no Japão e em Angola. José Neto não se posicionou sobre o assunto e segue no comando da seleção feminina.
Diego Falcão em quadra quando era preparador físico da seleção masculina — Foto: Divulgação
A CBB não explicou o motivo do desligamento. Segundo o ge apurou, apenas por emitir a opinião, Diego Falcão não poderia ser desligado dos projetos da entidade. O argumento da CBB foi uma “quebra de confiança” das jogadoras com o preparador físico. Ele não tinha contrato vigente assinado com a CBB e recebia como um prestador de serviços, pago pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), quando estava em campanhas como a tentativa de classificação olímpica. Diego Falcão foi comunicado que não continua nos projetos da seleção, ou seja, não será mais um dos colaboradores fixos da CBB.
José Neto e Diego Falcão durante período no Japão, com o Levanga Hokkaido — Foto: Reprodução
Nas redes sociais, as jogadoras se manifestaram antes do desligamento de Diego Falcão.
– Hoje eu ouvi comentários e depois vi as mensagens de um funcionário que trabalha com basquete feminino que respostou um post sobre a “PL do Estupro” e expressando a opinião dele sobre a vida. Mas uma coisa que fica muito difícil de engolir é que o post não tava falando sobre vida, mas sobre morte psicológica, que é o estupro. Morte psicológica pensando nas que sobrevivem, né? Porque muitas morrem. (…) É triste porque é difícil entender que tem pessoas desse tipo trabalhando com o feminino (…) Estamos aqui falando sobre o mínimo, que é respeitar o outro. Sendo que quando passa pela vida das mulheres acaba a gente tendo mais dificuldade. A gente vive isso desde mil novecentos e bolinha – disse Clarissa dos Santos, em vídeo de quase 5 minutos publicado em suas redes sociais.
Clarissa critica preparador da seleção feminina de basquete que fez post contra aborto
– Inacreditável que um profissional, que trabalha com o feminino, demonstre esse tipo de posicionamento nas redes sociais. O estupro é um crime grave. Que as mulheres tenham o direito de decidir e expressar sua opinião sobre isso. É essencial que nossa confederação se posicione de forma clara e adequada a esse assunto tão sério – escreveu Damiris Dantas, em uma sequência de publicações.
O PL (Projeto de Lei) 1.904, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), equipara o aborto ao crime de homicídio, mesmo caso a mulher tenha engravidado vítima de um estupro. O projeto teve a urgência aprovada pela Câmara em uma votação-relâmpago de 23 segundos na semana passada. A urgência para um projeto significa que ele poderá ser votado diretamente no plenário da Câmara, sem passar pelas comissões temáticas, onde a chance de ser modificado é maior. A votação da urgência e o conteúdo do projeto geraram reação da sociedade. O projeto sobre o aborto foi encampado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e é uma iniciativa da ala mais conservadora do Congresso (saiba mais em reportagem do G1).
A seleção feminina de basquete do Brasil não conseguiu a classificação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024.
Publicação de Damiris Dantas, jogadora de basquete — Foto: reprodução
Publicação de Damiris Dantas, jogadora de basquete — Foto: reprodução
Publicação de Damiris Dantas, jogadora de basquete — Foto: reprodução
Basquete feminino fora das Olimpiadas de Paris 2024