João Gomes é uma das novidades de Dorival Júnior na Seleção — Foto: Pedro Martins / Foto FC
Indicado para melhor jogador do mês de fevereiro na Premier League, João vê a oportunidade na Seleção chegar quando se sente mais à vontade em terras inglesas. O frio já não incomoda tanto mais, o idioma é mais agradável aos seus ouvidos, e a confiança vem de um processo de amadurecimento que demandou muita paciência:
— Estou muito feliz com esse momento que passo. Parece algo completamente novo. Sinto que posso ser protagonista. Coisas que eram mais difíceis, pela barreira do idioma, do frio, na minha dificuldade de respirar, que você sente os pulmões. Sinto que estou mais maduro, pronto para dar mais um passo na minha carreira.
Conhecido pela capacidade de marcação e ocupação de espaços nos tempos de Flamengo, João precisou também passar por um processo de remodelagem dentro de campo. Olhar para si próprio e reconhecer os pontos frágeis foi o primeiro passo para um volante que se diz mais completo e dinâmico.
Veja a coletiva de Dorival Júnior, técnico da Seleção Brasileira
— Por ser mais forte, achava que eu ia aguentar todas as pressões no brasil. No início, muitas das vezes, por eu ser menos forte aqui, eles vinham e roubavam a bola como se eu fosse criança. Aos poucos, fui me posicionando melhor e fui vendo que só ter força não iria adiantar.
O chamado de Dorival não foi o primeiro para defender o Brasil. Também na Data Fifa de março em 2023, o jogador recém-vendido aos Wolves esteve na lista de Ramon Menezes, mas não entrou em campo na derrota para o Marrocos. Experiência que João Gomes vê como determinante para deixá-lo mais à vontade:
— Eu já fui uma vez, então quebrei o gelo. Tirar a ansiedade de falar que estou na Seleção, de ver a recepção dos jogadores. Eu acho que na minha primeira convocação foi muito bom para quebrar o gelo da ansiedade. Hoje eu sinto que estou mais maduro, num melhor momento. Na vez que fui convocado, tinha acabado de sair do Brasil.
João Gomes chegou ao Wolverhampton em 2022 — Foto: Reprodução/Getty Images
Dias antes de se apresentar à Seleção, João Gomes conversou com o ge para falar do bom momento na Inglaterra, a relação com Dorival Júnior e do dia a dia no frio britânico às vésperas de se tornar pai pela primeira vez. Confira abaixo a íntegra do bate-papo com o jovem que será titular neste sábado, às 16h (de Brasília), contra a Inglaterra.
Você vive seu melhor momento justamente um ano depois de chegar à Inglaterra. Gols contra time grande, candidato a melhor do mês na Premier League… Isso diz muito sobre adaptação e se sentir mais à vontade tão longe de casa?
Estou muito feliz. Tudo isso vem sendo feito por mim, mas tem muitas pessoas que impulsionam meu trabalho, que não aparecem. Meus amigos, empresários, que estão 24 horas comigo. Estou muito feliz com esse momento que estou passando. Parece algo completamente novo. Sinto que posso ser protagonista. Coisas que eram mais difíceis, pela barreira do idioma, do frio, na minha dificuldade de respirar, que você sente os pulmões. Sinto que estou mais maduro, pronto para dar mais um passo na minha carreira.
Qual a principal diferença que você identificou do Brasil para a Premier League?
A Premier League muitas pessoas falam que o nível de intensidade é muito alto. Senti muita diferença nisso. Senti que dava muitos toques na bola. Isso podia atrapalhar meu time, mas eu não percebia. Aqui, qualquer toque a mais que você der na bola já pode perder um contra-ataque. Por isso, acho que estou mais dinâmico, tanto com bola e sem bola. Tinha dificuldade de dominar a bola já orientado, para onde queria jogar. Isso foi uma das coisas que eu mais evoluí. Para mim, isso foi o principal que fez eu crescer e evoluir.
João Gomes é uma das novidades de Dorival Júnior na Seleção — Foto: Pedro Martins / Foto FC
E como foi esse processo de compreensão e evolução dentro de campo? Alguém te chamou de canto e explicou ou foi uma percepção sua do dia a dia?
Acho que muitas pessoas foram responsáveis, mas o principal foi o antigo treinador, o Lopetegui. Ele falava muito disso. Eu era muito forte para o nível do futebol brasileiro. Aqui, eu era muito mais fraco. Então, qualquer toque na bola que eu desse a mais, poderia perder a bola pela força física deles. Por ser mais forte, achava que eu ia aguentar todas as pressões no brasil. Muitas das vezes, por eu ser menos forte aqui, eles vinham e roubavam a bola melhor como se eu fosse criança. Aos poucos, fui me posicionando melhor e fui vendo que só ter força não iria adiantar.
Como você explicaria para o torcedor brasileiro a sua função no meio de campo do Wolverhampton?
Eu no Flamengo era um segundo volante, mas não tinha tanta liberdade para o ataque por conta do nosso time – pela característica do time, que era eu, Arrascaeta e Everton. Eles não tinham muita recomposição. Aqui eu jogo na mesma posição, mas tenho mais liberdade, porque eu tenho muito bem essa comunicação com o time. Horas que eu vou, e todo mundo fica – ou o contrário. É difícil falar a posição que jogo, tem vezes que jogo de 5, de 8, mais avançado. Não sei muito te dizer qual minha posição exata. Não tem muito isso de 8 ou 5 hoje em dia. Precisa fazer todas as funções.
Dá para dizer que cada vez mais o jogador de meio de campo tem que ter a capacidade de jogar em todos os lugares e a função é menos rígida?
Veja os gols de João Gomes pelo Flamengo
Acho que sim. Mas isso são coisas que não se constroem do dia para noite. Nós brasileiros estamos acostumados com quanto mais para frente, melhor. Hoje o futebol mudou. Se não construir um time sólido na defesa, sempre vai correr perigo. Acho que quem ele selecionar, o Brasil vai estar servido bem. Tem o Douglas, Bruno, a safra de volantes do Brasil é muito boa. Isso é bom.
Você foi convocado por Ramon há um ano, em março, mas não entrou em campo diante do Marrocos. Quais memórias você tem daquela Data Fifa?
Eu fui uma vez, então quebrei o gelo. Tirar a ansiedade de falar que estou na Seleção, de ver a recepção dos jogadores. Eu acho que na minha primeira convocação foi muito bom para quebrar o gelo da ansiedade. Hoje eu sinto que estou mais maduro, num melhor momento. Na vez que fui convocado, tinha acabado de sair do Brasil. Estava me adaptando à Europa. Em relação ao Dorival, independente de quem está lá, a gente cria expectativa. Todas as pessoas sonham em representar o seu país. Para mim, é uma honra muito grande. Fico feliz também por ele de receber essa oportunidade.
Justamente no dia em que Dorival foi observar seu jogo em Londres, você marcou dois gols contra o Tottenham. Dali em diante ficou aquela convicção de que teria sua oportunidade?
João Gomes é uma das novidades de Dorival Júnior na Seleção — Foto: Pedro Martins / Foto FC
Eu acho que nem nos melhores sonhos poderia imaginar que isso aconteceria. Eu raramente faço um, e foram dois gols. Quando fiz meus dois gols, parecia que eu não sabia encontrar a palavra certa. Não uma expectativa, mas, poxa, estou desenvolvendo um bom trabalho. As chances são boas. Desde que eu era da base, sempre criei expectativa. Desde o sub-15, 17, 20… Quando falam que vai sair uma convocação, eu já não crio uma expectativa para me despreocupar.
Você e o Dorival mantiveram contato nesse tempo depois que ele saiu do Flamengo e você veio para a Inglaterra?
Desde que ele saiu do Flamengo, falo mais com o filho dele. É uma relação de respeito, mais pelo ser humano do que pelo lado profissional. Nada em prol da seleção, em específico. Ele, sem dúvidas, foi um dos treinadores que ajudaram a alavancar a minha carreira. Ele me deu um voto de confiança. Isso é o que um jogador precisa. Ele sempre me deu confiança para isso. Falou que faria uma grande carreira no Flamengo e na Europa.
Voltando para sua boa fase nos Wolves, você e o Matheus Cunha têm uma relação muito próxima e isso é perceptível nas redes sociais. O clube também tem muitos portugueses… Isso colabora para ficar mais à vontade?
Eu sou muito grato às pessoas que passam pela minha vida. O Cunha me ajudou muito. Aqui não é uma cidade turística, que as pessoas vêm visitar. Então, aqui, eu saía para casa dele ou com a família dele. Saí do Rio de Janeiro, uma cidade incrível, para uma cidade fria, que não é turística, você quase não vê as pessoas na rua. Ajuda ter alguém conhecido aqui, porque facilita a comunicação, mas também eu não melhoro o meu inglês da forma que precisaria porque ele tá aqui (risos). Para mim, se for para escolher, prefiro que ele sempre estivesse em todos os clubes para me apoiar.
E como está no idioma? O inglês está em dia?
Eu falo que meu inglês não é bom, mas eu sei que eles tão falando. Eu tenho dificuldade de formar frases, mas sei palavras. Se a outra pessoa fizer uma força para entender, dentro do futebol, você passa a mensagem que quer passar. E aqui é assim. As pessoas estão dispostas a me entender. Isso do Wolverhampton ajuda muito.