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Francisco De Laurentiis e Vladimir Bianchini
17 de mar, 2024, 06:00
Neste domingo (17), a Inter de Limeira, grande surpresa do Campeonato Paulista, encara o Red Bull Bragantino pelas quartas de final do Estadual, às 16h (de Brasília).
Para conquistar a classificação às semis, a equipe alvinegra conta com a experiência do zagueiro Emerson Santos, ex-Palmeiras, Internacional e Botafogo, que é titular absoluto do time comandado por Júnior Rocha.
Revelado pelo Glorioso, o defensor viveu seu maior momento em 2020, ao ser o “salvador” do Verdão no título da CONMEBOL Libertadores daquela temporada.
Emerson foi um verdadeiro “herói” no famoso jogo de volta do Alviverde contra o River Plate, pela semifinal, no Allianz Parque.
Na ocasião, o time palestrino foi “amassado” pelos argentinos, perdendo por 2 a 0 e passando um tremendo sufoco, mas conquistando a classificação à final por ter vencido por 3 a 0 na Argentina.
A façanha palmeirense só aconteceu porque, aos 38 do 2º tempo, Emerson Santos estava em cima da linha e salvou com a cabeça um chute do zagueiro Paulo Díaz, que se encaminhava para as redes após passar por Weverton.
O lance acabou parado na sequência por impedimento. No entanto, caso a bola tivesse entrado, o VAR mostraria que o atacante Borré estava em posição legal no começo da jogada, e o tento seria validado, com os argentinos fazendo 3 a 0 a poucos minutos do fim.
Depois disso, o elenco de Abel Ferreira se segurou aos trancos e barrancos até o apito final, conquistando a classificação à decisão continental, na qual seria campeão em cima do rival Santos.
Em entrevista à ESPN, o zagueiro lembrou o jogo histórico, que hoje lhe arranca risadas.
Santos também revelou uma boa história de bastidores de como “trocou provocações” com o técnico do River, Marcelo Gallardo.
“Pelo placar que a gente tinha feito no jogo anterior, de 3 a 0, muita gente estava achando que a gente ia passar com facilidade para a final. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram, né? (risos)”, recordou, às gargalhadas.
“Desde o começo do jogo o River já veio para cima. Tanto é que, no intervalo do jogo, o treinador deles mandou comprar champanhe e cerveja para comemorar a classificação (risos). Eles estavam confiantes que iam passar pela gente, até pelo ótimo primeiro tempo que tinham feito”, seguiu.
“Aí, quando acabou o jogo, eu fui até o (goleiro reserva) Jaílson e começamos a falar: ‘Manda trazer o champanhe e a cerveja pra cá, porque quem passou foi a gente!’ (risos). Isso me marcou demais”, divertiu-se.
Sobre seu momento salvador, Emerson contou por que resolveu se posicionar em cima da linha do gol naquele lance.
“Eu tinha entrado nesse jogo como volante a pedido do Abel. No lance do escanteio, a bola ficou ‘pererecando’ dentro da área e a única coisa que eu pensei foi: ‘Cara, eu não vou sair daqui de cima dessa linha de jeito nenhum, vou ficar aqui, tenho que ajudar da maneira que der'”, rememorou.
“Graça a Deus, eu estava muito bem posicionado quando a bola veio. O bandeirinha e o juiz, logo em seguida, deram impedimento, mas as câmeras depois mostraram que não estava. Se a bola tivesse entrado, o gol teria valido e a gente ia se complicar ainda mais. Eu posso dizer que estava no lugar certo e na hora certa. Tem que agradecer a Deus!”, exaltou.
Isso nunca teria acontecido se, em 2018, Emerson Santos tivesse tomado uma decisão muito diferente…
“Meus pais já tinham ido ao CT do Corinthians”
Revelado na base do Botafogo, Emerson foi um dos pilares da equipe que fez ótima campanha no Brasileirão de 2016, terminando em 5º lugar e conquistando a classificação para a Libertadores.
Nessa época, ele chamou a atenção do Corinthians, que ficou muito perto de acertar sua contratação para a temporada seguinte, como o próprio defensor revelou.
“Minha ida para o Palmeiras surgiu a partir de uma situação até meio engraçada, porque na verdade eu estava bem cotado era para ir para o Corinthians. Minha mãe e meu pai já tinham até ido ao CT (Joaquim Grava), conheceram todo mundo do Corinthians”, contou.
“Eu não cheguei a ir ao CT também, porque estava tendo muito jogo, então não consegui. Mas meus pais e meu empresário chegaram a fazer a visita”, acrescentou.
Então diretor de futebol do Alviverde, Alexandre Mattos aproveitou um encontro para “atravessar” o negócio e levar o zagueiro para o Palestra Itália.
“Teve uma partida que o Palmeiras foi nos enfrentar no Engenhão, em 2017. Depois do jogo, eu estava indo embora pelo corredor do vestiário e o Mattos me parou. Ele conversou comigo e fez um convite, apresentando a oferta do Palmeiras”, lembrou Emerson, que topou na hora o chamado do dirigente.
“Foi aí que eu decidi ir para o Palmeiras, pelo projeto que ele estava me oferecendo e por tudo o que foi passado para mim ali, olho-no-olho”, salientou.
Santos acabou sendo anunciado pelo Verdão logo no início da temporada seguinte, com um contrato de cinco anos.
“Eu larguei atrás dos outros no Palmeiras”
No entanto, ele acabou sendo pouco aproveitado pelo Alviverde logo que chegou e foi emprestado ao Inter no mesmo ano para atuar mais.
“Quando eu cheguei ao Palmeiras, todos me receberam muito bem, até porque eu estava jogando em alto nível pelo Botafogo, então foi criada uma grande expectativa em cima de mim”, comentou.
“O começo foi bem complicado, porque quando eu cheguei no Palmeiras o grupo tinha uns oito, nove zagueiros, todos muito bons, e eu cheguei em fase de adaptação. Aí, querendo ou não, eu larguei atrás dos outros e não fui muito aproveitado. Com isso, quando deu o meio de 2018, resolvemos ir por empréstimo para o Inter”, ressaltou.
Emerson ainda seria novamente emprestado ao Colorado em 2019 antes de regressar ao Verdão a pedido de Vanderlei Luxemburgo para a temporada 2020.
“O Rodrigo Caetano me fez esse convite do Inter porque antes ele estava no Flamengo e me observou quando eu estava no Botafogo. Ele queria ter me contratado já na época do Flamengo, mas teve aquele problema com o Botafogo e não deu certo. No Inter, consegui ter mais minutagem e fui bem, tanto é que fiquei lá de 2018 para 2019, totalizei um ano e meio lá. Queriam até renovar comigo”, apontou.
“Quando chegou 2020, porém, o Luxemburgo tinha assumido o Palmeiras e me chamou de volta. Ele me ligou e disse: ‘Preciso de você, conto com você para a temporada’. Aí acabei voltando ao Palmeiras, só que nem no banco ele me colocou. No fim, o Luxemburgo acabou optando por puxar o Felipe Melo para a zaga e eu voltei a ficar sem atuar”, lamentou.
A coisa só mudou de vez quando Abel Ferreira assumiu o Verdão, em novembro de 2020.
“No tempo do Luxemburgo, eu e o Luan ficávamos fora de quase todas as partidas. Depois disso, veio o Abel, e aí a coisa começou a acontecer novamente para nós”, disse.
Sob o comando do português, Luan foi titular da defesa que conquistou a Libertadores e a Copa do Brasil. Já Emerson Santos foi usado pelo treinador como zagueiro e volante, se notabilizando pelo lance “salvador” contra o River na semi continental.
“O Nelsinho é difícil de lidar”
Emerson Santos voltou a sair do Palmeiras em 2021, quando foi negociado com o Kashiwa Reysol, do Japão, após receber uma proposta que foi boa no aspecto financeiro tanto para o Verdão quanto para o atleta.
Apesar de ter gostado do Oriente, porém, desentendimentos com o técnico Nelsinho Batista fizeram com que o zagueiro voltasse ao Brasil já em 2022, assinando com o Atlético-GO.
“Eu não tenho nada de negativo para falar do Japão. Pelo contrário! Só tenho elogios. O estádio era ótimo, o campo era muito bom, a torcida era sensacional. Lembro de uma partida que a gente perdeu e a torcida nos aplaudiu muito, demos até uma volta olímpica no gramado para agradecer, enquanto eles gritavam nossos nomes. Foi um período muito bom lá”, salientou.
“A minha saída do Kashiwa foi mais por causa do Nelsinho. Na verdade, ele é um pouco difícil de lidar no dia-a-dia. Acho que não só a minha saída foi assim, mas a do (atacante) Pedro Raul também, pois ele também teve problema com o Nelsinho”, relatou.
Questionado sobre qual exatamente foi o problema com o experiente treinador, Emerson deu seu lado do caso.
“Minha briga com o Nelsinho não foi por nenhuma discussão em campo. Acredite se quiser, foi por um pedido para ir ao banheiro. Eu cheguei mais cedo no treino e pedi ao Diogo, que era o preparador físico, para ir ao banheiro antes do aquecimento. Ele me liberou e eu fui. Quando voltei, o Nelsinho estava falando um monte, reclamando que eu cheguei atrasado no treino. Começou a falar um monte de coisas desagradáveis para mim”, lembrou.
“Aí eu rebati, e acho que foi a gota d’água tanto para mim quando para ele. Acabou o respeito ali, porque ele falou um monte de coisas. Para mim, o respeito acabou, e aí achei que não dava mais para continuar no mesmo ambiente”, complementou.
Recomeçando na Inter de Limeira
Logo ao chegar ao Atlético-GO, Emerson Santos viveu um drama: em um de seus primeiros treinos, o zagueiro rompeu o tendão de Aquiles e teve que ser operado antes mesmo de fazer sua estreia pelo Dragão.
Com isso, ele passou um longo período de 2022 sem entrar em campo e só começou a atuar pela equipe goiana no ano seguinte.
Depois de altos e baixos do time e muitas trocas de técnicos, o jogador deixou o Atlético no final da temporada passada.
Já em janeiro deste ano, ele foi procurado pela Inter de Limeira para a disputa do Paulistão e aceitou o desafio, sendo anunciado em 22 de janeiro.
No interior paulista, ele ajudou o clube a fazer uma ótima campanha, deixando o poderoso Corinthians para trás no grupo e conquistando a classificação para enfrentar o Bragantino nas quartas.
“Ah, cara, futebol às vezes é muito louco. Eu fiquei bem feliz quando a Inter me procurou, porque, querendo ou não, o Paulistão é o Estadual mais visto de todos. Então, fiquei feliz com a oportunidade que o presidente e a diretoria me deram aqui em Limeira”, contou o zagueiro.
“Estou procurando corresponder em campo e fazer meu máximo. Eu venho atuando meio como volante, meio como zagueiro. Quando a gente não está com a bola, sou zagueiro. Quando estamos, aí consigo sair mais e aparecer para o jogo. Estou procurando me adaptar a tudo isso e aprender muito”, afirmou.
Quanto aos planos para o futuro, Emerson prefere pensar depois do Estadual.
“Acho que o futuro a Deus pertence, só ele sabe… Estou procurando ter cabeça tranquila, fazer tudo passo-a-passo. Quero encerrar bem o Paulistão, fazendo um bom papel aqui. Meu contrato com a Inter vai até o final do Estadual. Depois disso, a gente vê o que vai acontecer…”, encerrou.