Em meio à polêmica envolvendo a realização de uma corrida de Stock Car na Pampulha e o corte de 63 árvores do entorno do Mineirão, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) se posicionou contra a realização do evento em uma nota pública. Nesta quinta-feira (29), um dia após a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) dar início aos cortes e ser alvo de protestos, a reitora da universidade, Sandra Regina Goulart, afirmou que já foi intimada a solucionar o problema e que, se não houver um acordo com o município, a Justiça poderá ser acionada.
“A UFMG foi intimada, pela Comissão Nacional de Ética no Tratamento de Animais, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, a tomar providências com relação ao impacto nos animais do Hospital Veterinário e dos biotérios (criadouros para pesquisa). Ou seja, é minha responsabilidade responder pelos impactos na vida dos animais que esse evento causará. Portanto, se eu não conseguir um acordo com a prefeitura, eu devo tomar as medidas legais cabíveis. Não é uma opção minha, eu preciso fazer isso como a responsável por um ambiente hospitalar”, detalhou.
A reitora disse ainda ter sido surpreendida com o início dos cortes das árvores antes mesmo da comunidade escolar ser ouvida pela PBH. “Esperávamos ter algum diálogo e procurar encontrar um outro lugar que seja mais adequado, que não tivesse esse impacto para nossa comunidade, que tem mais de 50 mil pessoas”, ponderou.
Em publicação nas redes sociais, a PBH chegou a afirmar que o impacto nos animais do hospital veterinário seria “fake”, afirmando que, para solucionar essa questão, os organizadores da corrida iriam implantar barreiras acústicas “sob a coordenação de um professor da UFMG”, que seria o “maior especialista em acústica do Brasil”.
Questionada sobre essa afirmação do município, Sandra detalhou que o professor foi procurado pela organizadora da Stock Car para, individualmente, sem qualquer relação com a UFMG, desenvolver o dispositivo, porém, até o momento, nenhuma solução concreta para o impacto sonoro foi efetivamente apresentada.
“De fato é um professor muito respeitado, mas a UFMG não está envolvida nisso (desenvolvimento da barreira acústica). Ele vai fazer o estudo, vai trabalhar, para a empresa. Qualquer que seja o projeto, tem que ser apresentado para a UFMG para nós aprovarmos. Mas, até a última vez que eu conversei com esse professor, ele ainda não havia sido contratado, ele estava apenas conversando com a empresa e avaliando. Mas, antes mesmo disso, a Prefeitura já iniciou os cortes”, afirmou a reitora.
Para além do impacto nos animais da universidade, Sandra também pontua que portarias da instituição serão fechadas e, ainda, que os impactos não acontecerão em apenas um dia de corrida, mas, sim, ao longo de toda a semana, já que serão realizados testes no local.
“A portaria do Hospital Veterinário, inclusive, que é o único acesso ao local, precisará de ser fechada durante toda a semana, por conta dos testes. Não há nenhuma outra portaria que possibilite esse acesso”, completou.
A reitoria solicitou uma reunião com a PBH, que deverá acontecer na próxima segunda-feira (4 de março). A reportagem de O TEMPO procurou o município nesta quinta sobre a possibilidade da universidade acionar a Justiça. Por nota, a prefeitura falou sobre os retornos econômicos que serão gerados pelo evento, mas não respondeu à afirmação da reitora.
“Para solucionar, definitivamente, os problemas com ruídos de eventos no Mineirão, os organizadores da Stock Car implantarão barreiras acústicas. O projeto de instalação das barreiras acústicas está sob a coordenação do professor da UFMG, Marco Antônio de Mendonça Vecci, notório especialista em acústica no Brasil. As barreiras acústicas serão instaladas de forma permanente, ficando como legado do evento para a cidade”, completou a PBH.
Conselho municipal fará manifestação jurídica contra realização da corrida
Nesta quinta-feira, aconteceu uma reunião do Conselho Municipal de Política Urbana (COMPUR) que contou com a participação de 180 pessoas que se inscreveram, sendo que, deste total, somente uma teria se manifestado a favor da realização da corrida. Após o fim do encontro, foi decidido que o conselho fará uma manifestação jurídica à PBH.
Entre os argumentos apresentados por dois dos conselheiros, estão os impactos não só para os animais da UFMG, mas, também, à fauna da região e aos habitantes da Pampulha.
“O hospital trata e abriga animais com acuidade auditiva muito superior à dos seres humanos, e o barulho, além do estresse, pode até causar a morte desses. Some-se que, diante da necessidade do uso de ‘caminhões tanque’ no evento, para abastecimento dos veículos, bem como do aumento da liberação de óleos, há risco de contaminação do lençol freático e águas superficiais da Lagoa da Pampulha (Setor e da ADE Bacia da Pampulha). Tal área inclui-se em proteção especial quanto à ocupação e ao uso do solo”, argumentaram os integrantes do COMPUR.
Evento injetará R$ 200 milhões, segundo organizadores
De acordo com Sérgio Sette Câmara, CEO da Speed Seven, uma das organizadoras da corrida em Belo Horizonte, são muitos os benefícios que a realização do GP trará para a cidade. “Serão injetados R$ 200 milhões na economia do município e serão arrecadados cerca de R$ 20 milhões de impostos por ano. É um evento que vai incrementar o setor hoteleiro, de transportes, de bares e restaurantes. Esperamos criar cerca de 1.500 empregos diretos e indiretos”, comentou.
Ainda segundo os organizadores, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) levantou que o evento poderá gerar um impacto de até R$ 284,6 milhões ao município ao longo dos cinco anos de realização das corridas.
A empresa alega ainda que a sustentabilidade, inclusão e segurança são pilares do evento, planejando “medidas para mitigar o impacto sonoro do evento, com a instalação de barreiras acústicas no circuito, principalmente próximo à UFMG”.
“O desenvolvimento econômico e social da cidade também são prioridades e, por isso, diversas ações serão implementadas, como a neutralização de carbono por meio do plantio de árvores e o incentivo ao uso do transporte público, para reduzir o trânsito de veículos e as emissões de gases poluentes”, completou a Speed Seven.
Por fim, os organizadores da corrida pontuam que há todo um cuidado com os resíduos que serão gerados, com o rerrefino do óleo lubrificante utilizado pelas equipes, o que confere à iniciativa o Certificado de Destinação Final, documento de valor legal que assegura a conformidade com as normas ambientais.