Fisioterapeuta da Ferroviária sofre assédio durante jogo
Jéssica falou antes da partida entre as Guerreiras Grenás e o São Paulo, em Cotia (SP), em que as jogadoras dos dois times também protestaram em conjunto contra casos de assédio em foto no protocolo de abertura.
Jogadoras de Ferroviária e São Paulo protestaram nesta sexta contra assédio a mulheres — Foto: Cárila Covas/Ferroviária SAF
A técnica lamentou o caso envolvendo a colega de comissão técnica e afirmou que gostaria que o assunto repercutisse mais entre os homens e não que as mulheres tivessem que se pronunciar.
– Sempre a gente tem que provar. A gente já tem que passar pelo assédio. A troco de quê uma fisioterapeuta vai fazer isso? A troco de quê ela vai falar que alguém tá falando, se ela tá fazendo o trabalho dela profissional. O Brasil é um dos países que mais estupram mulheres, de violência doméstica contra a mulher. É absurdo, isso não cabe mais. E a Ferroviária, ela tem um espaço de fala muito grande. Eu como pessoa, como atleta e tudo que eu já vivi, eu não me eximo nunca, mas eu acho que tem que partir mais dos homens do que as mulheres. Estendo ao racismo, tem que partir mais dos brancos do que dos negros. Sempre a mulher tem que falar. Não, quem tem que falar são os homens. Por que vocês fazem isso? Porque vocês acham que têm direito de fazer isso? – desabafou Jéssica.
Ariane Falavinia, fisioterapeuta da Ferroviária — Foto: Cárila Covas/Ferroviária SAF
Segundo a denúncia da Ferroviária, o caso aconteceu enquanto Ariane se deslocou para o gramado do estádio Defelê, na última terça-feira, para realizar um atendimento à goleira Luciana.
Nesse instante, ainda de acordo com o clube, pessoas uniformizadas com roupas do Real Brasília fizeram comentários sobre as características físicas da profissional, que relatou a situação à arbitragem juntamente com uma jogadora, que ouviu as falas. O clube do Distrito Federal nega as acusações (veja nota oficial abaixo).
– Fica a minha indignação e eu vou combater sempre. Eu vou ser sempre a briguenta, a barraqueira, aquela chata, porque eu vou sempre falar. Minha vida vai ser assim sempre. Eu sei os ônus e o bônus dela. E eu acho que a Ferroviária faz com que as mulheres aqui não aceitem. Ninguém vai aceitar. Se falar de novo, vai ter polêmica de novo. Podem falar que é mimimi. Podem dizer que não pode falar nada para a mulher hoje em dia. Porque o homem só pode falar para a mulher o que ela dá direito de ele falar e não o que ele acha que ele tem o direito de fazer. Então, eu acho que está bem claro. Aqui na Ferroviária está bem claro nosso funcionamento – completou Jéssica de Lima.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) informou em nota que encaminhou a denúncia da Ferroviária ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).