Atuar como jogador de futebol até os 43 anos, por clubes como Real Madrid, Flamengo, Bayer Leverkusen, Bayern de Munique, Santos, Grêmio e Palmeiras, conquistar diversos títulos e disputar duas Copas do Mundo pela seleção brasileira. Zé Roberto teve uma carreira dos sonhos. No entanto, em entrevista ao ge, o ex-jogador revela sua grande frustração: a ausência na Copa do Mundo de 2002.
Disputei duas Copas do Mundo e poderia ir para a terceira na minha melhor fase como jogador, em 2002. Jogando no Leverkusen, fiz minha melhor temporada. Fomos para a final da Champions, final da Copa da Alemanha e disputamos ponto a ponto na Bundesliga até o final contra o Bayern, que me contratou naquele ano. Não ter ido para a Copa de 2002 eu carrego como uma grande frustração na minha carreira. Eu entendi que na época o Felipão optou por levar mais jogadores que atuavam no Brasil e ele conhecia. Eu já estava há alguns anos na Europa e acabei sendo preterido.
— Zé Roberto
Zé Roberto comenta “frustração” com Felipão na Copa de 2002 e fracasso de 2006
Ainda atuando na lateral-esquerda, Zé Roberto foi vice-campeão mundial em 1998, sendo reserva de Roberto Carlos. Na Copa de 2006, ele voltou a ser convocado e foi destaque da equipe, pré-selecionado para a seleção do torneio. O Brasil, que reunia nomes como Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Adriano e Ronaldo, entre outros, deixou a desejar e caiu nas quartas de final.
— Quando fomos disputar a Copa das Confederações 2005, já me sentia garantido (na Copa de 2006). Eu percebi que naquele último ano muitos jogadores tiraram o pé na temporada para não se machucar. E eu queria muito performar e chegar bem para fazer uma grande Copa. Acho que faltou preparação e foco na parte física. Nem todos estavam 100% fisicamente. E um pouco de organização da CBF junto ao calendário de treinos na Suíça e o espaço onde colocaram a gente. Foi muita bagunça… e isso tira o foco e a concentração.
“Com o time que nós tínhamos, teríamos que chegar pelo menos à final daquela competição”, disse Zé Roberto.
Zé Roberto ao lado de Ronaldinho Gaúcho com a camisa da seleção brasileira — Foto: Getty Images
Leverkusen x Bayern na Bundesliga
Aposentado, trabalhando atualmente como mentor de alta performance, Zé Roberto segue acompanhando futebol e de olho nos dois times em que atuou na Alemanha. Como citou anteriormente, o ex-jogador viveu seu auge no Bayer Leverkusen, clube que lidera a Bundesliga, com 10 pontos à frente do Bayern de Munique, e pode ser campeão alemão pela primeira vez.
— Para o Leverkusen é momento de afirmação. Afirmação de um futebol moderno, vistoso. De um treinador novo, que mostra que a filosofia de trabalho dele. E está sendo bem-visto por gigantes europeus. É muito legal ver essa possibilidade de o Leverkusen ganhar a Bundesliga pela primeira vez e entrar para a história. Pelo grande trabalho do Xabi Alonso, merece muito.
Por outro lado, Zé observa com bons olhos o momento vivido pelo clube bávaro, onde conquistou a maior parte de seus títulos na carreira. Para ele, o fim da hegemonia do Bayern de Munique faz bem ao futebol alemão.
— Olhar para as duas equipes parece que estão vestindo camisas ao contrário. O futebol que pratica o Leverkusen, anos atrás o Bayern jogou igual ou talvez até um nível acima. Acho que a hegemonia do Bayern ser quebrada neste momento eu vejo com bons olhos. A Bundesliga sempre teve um equilíbrio muito grande com outras equipes que há mais de 10 anos não conseguem tirar o título do Bayern. O Bayern de Munique, vivendo essa crise, faz com que volte a ir para o mercado internacional, ao invés de enfraquecer os times da Bundesliga. Acho que teria que reformular e ir para a Europa. Fazer contratação de jogadores que vistam a camisa e que deem resultados que o clube espera.
Zé Roberto em clássico entre Bayern de Munique e Bayer Leverkusen — Foto: Getty Images
“O Palmeiras é grande”
Se hoje, sob o comando de Abel Ferreira, e com grande elenco, o Palmeiras acumula títulos no futebol brasileiro e sul-americano, quando Zé Roberto chegou o momento era diferente. Ele chegou em 2015 ao clube alviverde que por pouco não havia sido rebaixado no Brasileirão anterior. Tendo em vista o trabalho que foi feito, o atual momento não surpreende o ex-atleta.
— Não é surpresa, porque o momento que vive o Palmeiras é muito por uma gestão bem feita. O Paulo Nobre passa um ano difícil no centenário do clube, quase cai para a Série B e reformula, trazendo grandes reforços. E já teve bons resultados em 2015. Conquistou o tricampeonato da Copa do Brasil e no ano seguinte o Brasileiro. Aquela gestão que aconteceu lá atrás é reflexo do momento positivo que o Palmeiras vive até hoje. Trouxe um grande gestor (Abel) e sempre fez grandes contratações. Não considero ele apenas treinador. É mentor dos atletas, consegue extrair o melhor dos atletas e passa confiança — afirma Zé Roberto.
Logo que chegou, liderando um novo projeto no clube, Zé Roberto fez um discurso em preleção que se tornou viral. O jogador pediu para que batessem nos peitos dos companheiros repetindo a frase “o palmeiras é grande”. Ele explica que se tratava de uma busca por uma nova mentalidade no clube.
— Aquele momento no vestiário era de saber a história do clube. Chegávamos em um clube para entrar para a história. Tirar aquela mentalidade de ir para mais um clube e usufruir do contrato. Entrar para a história e conquistar títulos era mais importante que isso. Bater no peito era mostrar para os companheiros que eles estavam vestindo a camisa de um time que tem história, tradição e precisava voltar a ganhar.
Em 2015, Zé Roberto viralizou em preleção: “O Palmeiras é grande” — Foto: Reprodução